quarta-feira, 31 de agosto de 2022

PL►Y: Como ser Malvada

 
Emma e Janina: delicioso contraste. 

Construir a identidade é uma das coisas mais difíceis na vida do ser humano. Tentar encontrar aquele equilíbrio entre o que se quer, o que se pode e o que não de deve fazer... articular o que te ensinaram com o que você deseja, saber lidar com as relações de forma a aceitar o que não pode ser alterado e seguir em frente... enfim, parece complexo demais (e é, haja terapia...) mas o filme alemão Como ser Malvada consegue trabalhar algumas destas questões naquela fase em que a construção de quem se é começa a se tornar mais latente no indivíduo: a adolescência. No entanto, para ficar diferente da maioria dos filmes do gênero, a produção utiliza um toque de fantasia que funciona melhor do que se imagina ao colocar no centro da narrativa a filha do coisa ruim, sim, isso mesmo, uma herdeira do inferno, a filha de Lúcifer é uma das personagens principais do filme. Como os tempos mudaram o anjo caído (vivido pelo veterano Samuel Finzi) agora administra uma empresa em que acompanha as maldades que andam fazendo por aí (e haja funcionários para isso) e no meio de tudo, sua filha, Lilith (Emma Bading) funciona como uma espécie de aprendiz (lidando com tretas online, claro). No entanto, ela quer fazer algo mais prático e importante. Como ela ainda é jovem, o pai não confia muito em suas habilidades e, afim de que ela fracasse, a manda para uma tarefa quase impossível: transformar a doce e educada Greta (Janina Fautz) em uma garota malvada. Lilith acha que vai tirar a lição de letra, mas vinda de uma família humilde e com uma paciência de Jó, Greta lhe dá muito mais trabalho do que imagina. Nada parece capaz de tirar a menina do sério. Das recorrentes humilhações que passa na escola, passando por sua total invisibilidade perante aos olhos dos meninos e a aceitação plena das ordens de seus pais, Greta realmente parece merecer o céu. Mas a que preço? Enquanto a novata Lilith começa a criar atritos na escola, o filme começa a mergulhar em um campo muito interessante ao fazer pensar que a passividade tem um preço e ele pode ser bastante alto se você não tiver um pouquinho de malícia para se impor no mundo e, não por acaso, Greta e Lilith (em saboroso contraste nas atuações) se tornam amigas e a influência de uma sobre a outra começa a provocar alguns efeitos inesperados. Obviamente que Como ser Malvada tem um bocado de ingenuidade, mas funciona ao criar uma história sobre crescimento que foge um pouquinho do óbvio, além de deixar as duas personagens principais em torno do mesmo dilema: até que ponto vale a pena agradar os pais e esquecer o que se quer. Essa construção identitária entre ser o que você é com o que os outros esperam que você seja nutre o desfecho do filme e, de certa forma, deixa claro que até os bonzinhos precisam extrapolar de vez em quando (e os malvados baixar a guarda quase sempre). O filme está perdido no imenso catálogo da Netflix (com o nome original em alemão, o que dificulta bastante a busca por aqui, e merece uma olhada!

Como ser Malvada (Meine teuflisch gute Freundin/Alemanha - 2018) de Marco Petry com Emma Bading, Janina Fautz, Ludwig Simon, Samuel Finzi, Emilio Sakraya, Oliver Korittke e Thomas Klemens. ☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário