Red e Souleymane: crônica de uma morte anunciada. |
Ramin Bahrani concorreu ao Oscar ano passado por seu roteiro adaptado de O Tigre Branco (2021), antes ele já havia chamado atenção por fazer uma nova adaptação de Fahrenheit 451 (2018) para a HBO e por seu drama imobiliário 99 Casas (2014). No entanto, ele chamou atenção da crítica com seu quarto longa metragem que figurou entre os dez melhores filmes de 2008 na lista do conceituado Roger Ebert. Adeus, Solo é de fato um filme que emociona de forma diferente, além de apresentar temáticas que são recorrentes na obra de Bahrani. Nascido na Carolina do Norte, nos filmes de Bahrani as relações de poder estão sempre presentes, assim como um olhar especial na hora de subverter as expectativas do espectador quanto aos seus personagens, especialmente sobre aqueles que poderiam ser vistos como heróis. O Solo do título é um motorista de táxi (Souleymane Sy Savane) vindo da Nigéria, ele foi para os Estados Unidos atrás de uma vida melhor. Casado, com a esposa grávida e com uma filha, Solo é cheio de esperanças com o que a vida lhe reserva e, talvez por este motivo, fique tão instigado com um passageiro que entra em seu veículo e pede para que ele o leve em um lugar diferente numa data bastante específica: no alto de um conjunto de montanhas em que a corrente de vento é tão forte que a neve é capaz de subir ao invés de descer. Em tom de brincadeira, Solo indaga o passageiro o que ele irá fazer por lá e presume que o que aquele senhor fará não será nada divertido. Uma proximidade se estabelece aos poucos entre o motorista e aquele senhor taciturno chamado William (Red West), nascendo uma amizade um tanto acanhada pela preocupação existente. William não possui parentes próximos. Não gosta de falar de sua história e talvez a única pista que Solo encontre sobre seu passado esteja no cinema ao qual pede para ser levado com frequência. A história de vida de William permanece em mistério e sempre que Solo tenta se aproximar um pouco mais é repreendido, com violência até. Enquanto o motorista enfrenta problemas em sua vida conjugal, ele ainda tenta fazer aquele senhor perceber que as situações ruins irão passar e resta apenas persistir para que tudo melhore. Existe um contraste interessante entre os dois personagens, valorizado ainda mais pelo rosto de pedra de Red West e todo o carisma irresistível de Souleymane. Este contraste valoriza o filme, mesmo que tenhamos a exata percepção de que o desfecho será imutável (e deixará um nó na garganta quando a frase do título estiver prestes a sair). Adeus, Solo pode ser um filme sobre desistência da vida, mas também sobre fraternidade, amizade e solidão (o nome Solo não está no título por acaso), mas é sobretudo uma obra bastante sensível que já sinalizava o talento que Bahrani possui para envolver o espectador nas emoções dos seus personagens.
Adeus, Solo (Goodbye, Solo - EUA/2008) de Ramin Bahrani com Souleymane Sy Savane, Red West, Diana Franco Galindo, Carmen Leyva e Jim Babel. ☻☻☻☻
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