terça-feira, 8 de outubro de 2013

FILMED+: Ferrugem e Osso


Matthias e Marion: boa química em ótimo romance. 

Quase que em 2013 tivemos a chance de ver duas atrizes francesas na disputa do Oscar da categoria. Infelizmente, a Academia reservou lugar somente para a performance irretocável de Emanuelle Riva em Amor e Marion Cotillard ficou de fora. Não que isso importe. Faz tempo que uma atriz francesa não cria tanto rebuliço em Hollywood. Desde que foi celebrada por sua atuação em Piaf - Um Hino ao Amor (2007), onde levou para casa inúmeros prêmios entre Oscar e Globo de Ouro, a  atriz já marcou presença em vários filmes. Seja sob a batuta de Woody Allen ou Christopher Nolan, suas atuações são sempre dignas de elogios, mesmo que suas participações sempre fosse de coadjuvante. Chega a ser irônico que para ser protagonista ela tenha que voltar para a França e provar, mais uma vez que é capaz de carregar um filme - não que alguém tenha duvidado. Assinado por Jacques Audiard (do excelente O Profeta/2009), Ferrugem e Osso é uma história de amor bastante inesperada que é valorizada pelas atuações precisas de Marion e do belga Matthias Schoenaerts (protagonista de Bullhead/2009). Ela é uma beldade que trabalha em shows protagonizados por baleias orcas. Ele é um estrangeiro que tenta a vida como segurança na França depois que ficou com a responsabilidade de cuidar do filho. Apesar de ser um romance, Audiard tempera a trama com bastante brutalidade. Não por acaso, Stéphanie (Marion) e Alain (Matthias) se conhecem em meio à uma briga na boate onde ele trabalha, mas a relação entre os dois personagens só irá aprofundar meses depois, quando um acidente irá mudar a vida de Stéphanie para sempre. O acidente que sacrifica metade das pernas da personagem é o motivo para que os dois personagens se aproximem e descubram que se complementam. Marion está excepcional  ao explorar as transformações de sua personagem após o acidente. As dificuldades de perceber que a vida continua estão estampadas em seus rosto. Suas vaidades e desejos parecem ter sido tão mutiladas quanto seu corpo. É com a companhia e intervenções do rústico Alain que ela irá subjetivar sua nova condição. Ao mesmo tempo em que Alain se mete em arriscadas lutas clandestinas, percebemos outras nuances do personagem conforme ajuda Stéphanie a redescobrir sua sexualidade e autoestima. Nesse ponto, há de se reconhecer que Matthias prova mais uma vez que é expert em mesclar brutalidade e sensibilidade em suas atuações. Não deixa de ser interessante como após um filme extremamente testosterônico (O Profeta), Audiard tenha experimentado tons mais sutis nas relações de seus protagonistas. Stéphanie descasca Alain e Alain descasca Stéphanie durante o filme, explorando o que parecia escondido entre os dramas que sofreram.  É verdade que existem socos e sangue na trajetória de ambos, mas a alma de seu filme é extremamente romântica. Audiard é capaz de construir cenas belíssimas - especialmente quando Stéphanie relembra os gestos que guiavam os movimentos da baleia, além das cenas na praia - e ousa criar um final diferente aos que estamos acostumados a esse tipo de filme. Alguns chamaram o filme de implausível pela forma como mistura os dois mundos dos personagens, mas eu não acho. Ferrugem e Osso é original em suas escolhas e, apesar do exagero no sofrimento do pequeno filho de Alain,  pode ser considerado outro grande acerto na cinematografia de Audiard. O cineasta filma muito bem e constrói um deleite para quem está cansado de histórias pasteurizadas. Além disso, acertou em cheio em sua dupla principal. Schoenaerts deixa claro que não se contenta em ter cara e porte de galã e Marion crava ainda mais fundo o seu lugar no coração dos cinéfilos. 

Ferrugem e Osso (De rouille et d'os/França-2012) de Jacques Audiard com Marion Cotillard, Matthias Schoenaerts, Armand Verdure e Céline Sallette. ☻☻☻☻☻

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