domingo, 23 de julho de 2023

#FDS Para Maiores: Théo & Hugo

 
Couët e Nambot: desinibição com alma romântica 

A cena de abertura de Théo & Hugo é uma verdadeira afronta: um grupo de homens se entregando aos prazeres da carne em uma legítima black room localizada abaixo de um bar gay na França. A cena de estende por longos minutos e dá a impressão que estamos diante de mais um filme pornográfico que tem aos montes em sites da Internet. Quase vinte minutos depois, quando você imagina que o filme vai ficar só nisso, o filme muda de tom e passa a se dedicar a dois rapazes presentes naquela ocasião. No caso, os dois personagens do título que sentiram algo diferente um pelo outro perante a multiplicidade de parceiros presentes ali. Os dois resolvem continuar a noite em outro lugar, engatam uma longa conversa pelas ruas vazias de Paris que se transforma em uma crise quando Hugo (François Nambout)al descobre que Théo (Geoffrey Couët) não usou preservativo durante a transa que tiveram. Se você é um daqueles que consideram a atitude de Hugo um exagero (vale lembrar os riscos do lugar em que estavam durante a noite), a situação logo recebe maiores explicações quando Hugo revela ser soropositivo. O que prometia ser apenas o início de um romance logo se torna uma reflexão sobre o fantasma da AIDS consciência frente à doença no século XXI. Entre uma conversa e outra a atração entre os dois personagens oscila. Eles discutem, se afastam, se atraem, trocam acusações, questionam a postura de um e de outro, mas existe uma preocupação legítima de um com o outro que não consegue ser disfarçada. Em alguns momentos o filme lembra a trilogia do Before de Richard Linklater com as longas caminhadas embaladas pela conversa dos personagens que se revelam aos poucos, de forma que podemos perceber como Hugo é calejado e Théo ainda é um bocado ingênuo perante a vida sexual que pretende levar. O filme da dupla Olivier Ducastel e Jacques Martineau  foi premiado com o Teddy Bear no Festival de Berlim e ganhou alguma repercussão pela forma como retrata a AIDS nos dias de hoje, uma doença que pode parecer sob controle quando devidamente diagnosticada e medicada, mas que ainda necessita muito da prevenção e conscientização. Estes elementos complementares aparecem muito na vida aparentemente normal que Hugo consegue levar tendo com o uso de medicamentos e cuidados pessoais e encontra um contraponto na postura um tanto inconsequente de Théo. O  filme por vezes se torna cansativo por ser palavroso demais, algo que tenta contornar com uma certa tensão sobre o resultado do exame de Theo, aspectos que preenchem o filme até que volte a investir na desinibição de seus atores no último ato. Mas não se engane, apesar de toda ousadia, o filme tem uma alma romântica que busca retratar de forma mais natural possível a atração entre os personagens. Inicialmente assisti ao filme na Filmmica para escrever sobre no CICLO DIVERSIDADESXL no mês passado, mas ele acabou ficando de fora, mas cai como uma luva para encerrar esse #FimDeSemana dedicado a produções ambiciosas e ousadas dedicadas ao público maior de dezoito anos. 

Théo & Hugo (Théo et Hugo Dans le Même Bateau / França - 2016) de Olivier Ducastel e Jacques Martineau com Geoffrey Couët, François Nambot, Bastien Gabriel e Miguel Ferreira. ☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário