Bethany: quando Wes Anderson encontra David Lynch. |
Infelizmente o cinema australiano não chama mais tanta atenção quanto o fazia nos anos 1990, quando produzia verdadeiros hits que rivalizava com os filmes dos Estados Unidos em nossos cinemas. No entanto, de vez em quando, um filme da terra dos cangurus aparece e nos brinda com alguma nostalgia dos tempos de O Casamento de Muriel (1994) e Priscila a Rainha do Deserto (1994). A história de O Sonho de Greta tem nada relacionado com as duas obras citadas, mas o visual lembra aquele frescor que aqueles filmes traziam, sem medo de soarem estranhos ou cafonas para o grande público. O filme conta a história da adolescente Greta (Bethany Whitmore), que é bastante tímida e introspectiva. Ela tem dificuldades para fazer amizades no colégio e logo chama atenção de um garoto ruivo que parece gostar dela, Elliot (Harrison Feldman). Mas Greta é tão insegura que é mais fácil entender que ela não gosta dele do que possa ter qualquer outro sentimento. Ela também vive sendo cercada pelas trigêmeas populares da escola que causam mais arrepios do que simpatia, mas ela queria mesmo era ser invisível. Até dentro de casa, com o pai bondoso (Matthew Wittet), a mãe animada (Amber McMahon) e a irmã (Imogen Archer) um pouco mais velha que já passou da fase de tentar agradar todo mundo - e acabou conseguindo um namorado bonitão (Eamon Farren). Se tudo o que a protagonista quer é ficar sossegada no canto do seu quarto, a ideia da mãe fazer uma festa de aniversário de 15 anos lhe causa verdadeiro horror. Imaginar os colegas de escola visitando seu refúgio é um verdadeiro festival de gatilhos sobre tudo o que pode dar errado. O Sonho de Greta é o simpático filme de Rosemary Myers que foi bastante lembrado nas premiações australianas no ano de seu lançamento. Baseado na peça do próprio Mathew Wittet (um dos atores favoritos de Baz Luhrman) o filme pode ser dividido em duas partes, na primeira é sobre a realidade da protagonista com todos os seus medos e temores típicos da insegurança adolescente. Nesta primeira parte, a diretora investe num tratamento visual que lembra bastante as comédias de Wes Anderson. A influência do diretor hollywoodiano aparece bastante na direção de arte que cria uma moldura de início dos anos 1980 com marcas da década anterior, assim como na composição de cenas que flerta com a simetria conferindo um tom graciosamente artificial à apresentação dos personagens. Curiosamente tudo mudo de configuração quando tem início a segunda parte em que somos apresentados ao sonho de Greta. Ali todos são transformados em outros personagens bastante simbólicos das fantasias da personagem, o que faz tudo parecer uma brincadeira com o cinema de David Lynch. De figuras imaginárias e outras que inserem camadas sobre a sexualidade de Greta em sua passagem para a vida adulta, o filme traz um bem-vindo estranhamento ao que antes era tido como fofo, contido e ingênuo numa alusão de despedida da infância. Num elenco esforçado e correto, o destaque vai mesmo para Wittet que encarna dois personagens bastante distintos no decorrer da história e me deixou curioso de vê-lo em outras obras. O filme está atualmente em cartaz na MUBI e merece uma visita.
O Sonho de Greta (Girl Asleep / Australia - 2015) de Rosemary Myers com Bethany Whitmore, Amber McMahon, Matthew Wittet, Harrison Feldman, Eamon Farren e Imogen Archer. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário