Fenômeno de audiência na GloboPlay, Os Outros alcançou a difícil tarefa de alcançar elogios de público e crítica com sua história repleta de suspense e pesadelos urbanos. Tudo parte da briga entre dois adolescentes na quadra de um condomínio da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Aparentemente o que poderia ser resolvido com um pedido de desculpas (e alguma punição por parte da família do agressor), se torna uma verdadeira guerra entre as duas famílias, só que depois piora. Afinal de contas, a mãe de Marcinho (Antonio Haddad), o menino agredido é Cibele (Adriana Esteves), contadora disposta a defender seu filho com unhas e dentes. Do outro lado do ringue, ops, do condomínio, temos Vando (Milhem Cortaz) que talvez não se dê conta de como incentiva a agressividade do filho agressor Rogério (Paulo Mendes) em vários momentos do dia. Ao lado destes dois pesos pesados estão respectivamente o passivo Amâncio (Thomás Aquino), que parece tentar resolver as coisas da forma mais harmoniosa possível, pelo menos até conhecer Mila (Maeve Jinkins) que lhe desperta... algo diferente. Do ponto de partida aparentemente simples, a série ganha fôlego nos dois primeiros episódios e amplia a tom de paranoia e raiva nos episódios seguintes com ajuda de Sérgio (Eduardo Steiblich), um ex-policial expulso por corrupção que ironicamente se torna a salvação dos morados com seu discurso de tudo por segurança auxiliado pela síndica Dona Lúcia (Drica Moraes), que assim como ele tem segundas e terceiras intenções a cada taxa extra que é cobrada dos moradores. No entanto, se antes a briga entre dois adolescentes se torna a batalha entre Cibele e Vando, logo ela se torna um imenso buraco caótico que começa a dragar todos que chegam perto com consequências inesperadas. Criado por Lucas Paraizo, responsável pelos textos de Sob Pressão (iniciada em 2017) e por sua colaboração em Justiça (2016), dois outros sucessos da Globo, a crítica social em tom de guerra em um lugar que deveria inspirar segurança, fala nitidamente da agressividade que tomou conta de nossas relações, fala dos impulsos que poderiam ser evitados se os personagens fizessem aquilo que sempre inicia cada episódio (um respiro longo para oxigenar o cérebro e fazer pensar melhor), no entanto, como todo mundo parece estar no limite, acaba tomando atitudes desesperadas e complicando ainda mais a situação e, pior ainda, abrindo espaço para personagens perigosos que vendem o discurso de "segurança" quando na verdade seus interesses são outros. Para além do texto de Paraizo, a direção de Luisa Lima é um primor, oscilnado entre o tenso e o terno nas horas certas. A diretora consegue imprimir uma escalada de emoções sempre envolvente e que contorna alguns momentos complicados. A série se perde um pouco quando o destino de Vando é traçado, dali em diante tudo se torna um tanto fácil demais para Sérgio enquanto Rogério pende para lá e para cá tomando atitudes pouco críveis, porém, nada atrapalha a atmosfera de pesadelo urbano de que a série necessita. Além disso, o elenco está espetacular, com destaque para Adriana Esteves (que parece sempre com o coração prestes a explodir a cada cena) e Maeve Jinkins numa relação complicada entre duas mulheres em busca de um sentido para tudo aquilo. O final deixa uma brecha para uma segunda temporada, mas eu preferia que a produção parasse por aqui, gosto da sensação que o título faz alusão de que os outros são desconhecidos, quando a última cena deixa a sensação de que até quem está próximo pode ser um outro desconhecido.
Os Outros (Brasil-2023) de Lucas Paraizo e Luisa Lima com Adriana Esteves, Milhem Cortaz, Maeve Jinkins, Eduardo Sterblitch, Drica Moraes, Thomás Aquino, Antonio Haddad, Paulo Mendes, Guilherme Fontes e Rodrigo Garcia. ☻☻☻☻
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