sábado, 29 de julho de 2023

Na Tela: Barbie

 
Ryan e Margot: o rosa contra o patriarcado. 

Faz tempo que não vejo um filme provocar tanta comoção como Barbie. Não digo isso pelo discurso antipatriarcado do filme e a legião de pessoas que se doeram com isso, falo pelo grupo de pessoas que foram ver o filme conforme manda o figurino: de rosa. As lojas foram tomadas pela cor que tempos atrás causava urticária ao ser associada ao sexo feminino, agora Barbie reverteu o jogo no imaginário pop. Acho que não precisa nem dizer que muitos meninos também foram ver o filme de rosa (na sessão que eu assisti havia três de vestido rosa) e uma menina sentada ao meu lado que pedia para mãe para ir embora e tomar milkshake, mas a matrona se irritava dizendo que queria ver o filme até o final. A criança tinha uns cinco anos e não estava nem aí para Barbie e suas desventuras, afinal, conforme bem explica a classificação do filme, ele não é para os miúdos (caso ainda resta dúvida a classificação é de doze anos). A diretora Greta Gerwig ao lado de sua estrela produtora, Margot Robbie, criaram um verdadeiro fenômeno e (espertas do jeito que sempre foram) sabiam que um filme para criar tanto alarde precisava quebrar o nicho de um público e se expandir para todos os demais. Por isso, Barbie tem aquele estilo arrebatador baseado nos acessórios da boneca, os visuais clássicos do brinquedo e versões de carne e osso de várias versões da personagem. Todas são Barbies, mas o protagonismo fica por conta da Barbie Estereotipada (Margot Robbie), aquela que você imagina sempre que se fala a palavra que dá título ao filme. Foi ela quem rompeu o paradigma das meninas brincarem com as bonecas que pareciam bebês e se relacionavam com a maternidade e fez com que as meninas olhassem para o futuro e se vissem como mulheres adultas e não somente mães. Muito já foi discutido ao longo da história sobre o papel da boneca da Mattel no imaginário cultural de várias gerações. Sorte que na Barbielândia tudo isso já está muito bem resolvido com a Barbie presidente , a Barbie ganhadora do Nobel, a Barbie doutora, a Barbie com corpo fora dos padrões, a Barbie cadeirante, a Barbie grávida... todas são bem resolvidas e ocupam o topo da pirâmide local, enquanto os Kens estão no mesmo lugar de sempre: o de acessório da Barbie. Muita gente parece chocada em descobrir que o Ken não tem casa e carro feito a Barbie (mas se tem gente que polemizaram o fato de ambos não terem genitais - em que planeta esta gente vive? Oops, desculpa, será que isso é um SPOILER?). No entanto, começa a acontecer coisas estranhas com Barbie Estereotipada. Ela começa a ter pensamentos diferentes das outras, seu pé perde aquele formato próprio para usar salto alto (e ela mesma cita que se tivesse pés planos jamais usaria salto) e até aparece celulite em suas pernas. Horrorizada, ela conversa com a Barbie Estranha (KAte McKinnon) e descobre que a forma de resolver estes problemas é ir para o mundo real e encontrar sua dona. Assustada ela topa o desafio e acaba sendo acompanhada por Ken (Ryan Gosling), que faz de tudo para chamar a atenção da loura, mas não recebe muito mais do que pouca atenção. No mundo real Barbie vai descobrir que as coisas são muito diferentes  e Ken também, especialmente no que diz respeito às relações de gêneros e de poder. Greta Gerwig constrói uma sátira esperta, com piadas bem sacadas sobre o choque entre um mundo de fantasia e o mundo real com verniz adequado de crítica social. O problema é que após a primeira hora de filme a narrativa perde ritmo  e precisa de algumas quebras na narrativa (a dancinha dos Kens, a hilariante propaganda da Barbie Depressiva) para voltar a fazer rir, é engraçado que quando o Ken assume a posição de líder de Barbielândia o filme se torna menos divertido, talvez por tornar aquele lugar uma paródia de um mundo real que conhecemos tão bem. O filme acaba se tornando mais previsível com o plano de fazer voltar tudo ao normal e a execução do plano se torna um tanto repetitiva até o desfecho com ares de Pinóquio. Com uma cenografia impressionante e um elenco radiante (com destaque óbvios para Margot e Ryan Gosling), o filme também conta com uma trilha sonora esperta, com destaque para a canção animada de Dua Lipa e a (belíssima) música introspectiva de Billie Eilish. Prevejo um duelo das duas no Oscar do ano que vem e não me surpreendo se Barbie for lembrado em várias categorias com sua graça  entre o realismo e surrealismo.

Barbie (EUA - 2023) de Greta Gerwig com Margo Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera, Ariana Greenblat, Kate McKinnon, Issa Rae, Emma Mackey, Alexandra Shipp, Simu Liu, Kingsley Ben-Adir, Ncuti Gatwa, Scott Evans, Will Ferrell, Connor Swindels e Helen Mirren. ☻☻

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