Chalamet: mais docinho que nunca. |
Sou de uma geração que assistia A Fantástica Fábrica de Chocolate em sua versão clássica na Sessão da Tarde. Eu nem imaginava que aquele filme foi lançado oito anos antes de eu nascer. O fato é que o longa dirigido por Mel Stuart se tornou um daqueles filmes que habita a cultura pop por décadas. Stuart fez o filme pouco depois de ter sido indicado ao Oscar pelo documentário Quatro Dias em Novembro (1965) sobre o assassinato de John Kennedy, o que só aponta a ligação inusitada de seu nome ao projeto. Confesso que Willy Wonka (vivido por Gene Wilder) sempre me deixou um tanto assustado em sua relação com aqueles visitantes e os Oompa Loompas. Talvez a obra de Roald Dahl provoque arrepios em alguns guris ainda hoje. Mais de trinta anos depois, Tim Burton investiu em uma versão repaginada estrelada por Johnny Depp. O resultado mais colorido fez sucesso nas bilheterias e, apesar das esquisitices, alcançou um resultado menos denso que o anterior. Foi nessa época que começaram a especular sobre uma produção que contasse as origens do estranho Willy Wonka. Quase vinte anos depois a ideia saiu do papel e chegou aos cinemas conquistando elogios. Wonka conta a história do jovem sonhador Willy Wonka que sonha em fazer sucesso com os seus chocolates peculiares. No entanto, ele descobre que vencer no ramo é algo repleto de desafios. Além de ter que lidar com um verdadeiro cartel de fabricantes de chocolate, Willy ainda precisa lidar com um casal de aproveitadores que pretendem lhe arrancar cada centavo que receba. Vivido por Thimotée Chalamet, o jovem Wonka é dotado de uma ingenuidade irresistível e ganha torcida da plateia desde a primeira cena em que chega na cidade armado somente com seu sonho de produzir chocolates. É difícil reconhecer ali o personagem um tanto bizarro que já vimos em outros filmes, especialmente quando o filme começa a revelar sua verve musical com músicas engraçadinhas e momentos bem orquestrados pelo diretor Paul King (do fofo As Aventuras de Paddington/2014 e sua continuação de 2018). No entanto, conforme a história avançae as maldades em torno do personagem se acumulam, percebi que talvez o que o filme nos revele é como aquele jovem com maior jeito de mocinho de conto de fadas, se tornou num produtor amargurado de chocolates. É neste ponto que retorno ao que me assusta no personagem relatada no início dessa postagem, alguns momentos cruéis trouxeram um grande contraste com a embalagem colorida e adocicada que o filme traz. Esse contrasta acontece muitas vezes nas cenas musicais que parecem embaladas pelos delírios de grandeza de Willy e a realidade maldosa que o cerca, mal comparando, lembrei um pouco da sensação que assistia aos delírios musicais de Dançando no Escuro (2000). No entanto, Wonka pretende ser um filme para cima e otimista, sabendo camuflar o que já de amargo na sua trama. Chalamet me surpreendeu ao encarnar um personagem bastante diferente do que já fez até aqui e acho que posso dizer o mesmo de Hugh Grant como o Oompa Loompa pioneiro. O filme poderia ser um pouco mais enxuto e não se embolar nos mistérios que cria, mas tem magia suficiente para segurar o interesse até o desfecho que deixa a sensação que novos filmes devem ser lançados nos próximos anos. No entanto, só fiquei pensando nas viradas que o personagem poderá ter em suas próximas incursões para o cinema.
Wonka (EUA - Reino Unido - Canadá / 2023) de Paul King com Thimotée Chalamet, Olivia Colman, Calah Lane, Jim Carter, Keegan-Michael Key, Hugh Grant, Sally Hawkins e Matt Lucas. ☻☻☻
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