Priscilla e Elvis: conto de fadas do avesso. |
Enquanto Baz Luhrman ainda desfrutava de todo sucesso de seu filme Elvis (2022), Sofia Coppola divulgou que contaria a história de Priscilla Presley, a esposa do Rei do Rock. Houve quem torcesse o nariz para a ideia, mas houve um grupo que considerou que seria interessante ver o outro lado da história que foi contada pelo exuberante diretor pelas mãos de uma cineasta de estilo completamente diferente como Sofia. Se a própria Priscilla havia elogiado o filme de Baz, ela agora se tornava produtora do filme de Coppola com seu roteiro adaptado de sua famosa autobiografia chamada "Elvis e Eu" lançada em 1985. A obra já havia sido adaptada para um telefilme em 1988 (que por aqui foi exibida no SBT), mas isso não era obstáculo nenhum para o trabalho de Sofia. Dona de um estilo único, vale lembrar que ela se tornou a primeira cineasta nascida nos Estados Unidos indicada ao Oscar de direção por Encontros e Desencontros (2003) e, desde então, seguiu uma carreira que não se curva perante os parâmetros da indústria de Hollywood. Priscilla é mais um exemplo disso, ela consegue ser o total oposto do brilho colorido glamouroso do longa de Baz Lurhman e se torna um filme bastante introspectivo ao criar um retrato bastante íntimo da personagem que se apaixona pelo maior astro da música mundial - quando era uma adolescente de dezesseis anos. Este deve ser o ponto mais incômodo do filme e a escolha de Cailee Spaeny ressalta ainda mais a diferença de idade entre Priscilla e seu futuro esposo, já que ela consegue ser muito convincente como alguém muito jovem, assim como a mulher madura que se torna. A protagonista morava em uma base militar na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, no mesmo período em que Elvis foi para a guerra. Obviamente que a garota ficaria fascinada com a chance de conhecer o ídolo de todas as garotas de sua idade e Elvis também ficou visivelmente atraído por ela. Não demora muito para que ambos fiquem debaixo do mesmo teto, ou melhor, para que ela se mude para casa dele enquanto ele cumpre seus compromissos de astro do rock. Durante a maior parte do tempo, Priscilla passa seus dias sozinha, indo para a escola, convivendo com as rápidas visitas de seu amado e as famosas oscilações de humor de seu futuro esposo. Muita gente reclama que o filme se arrasta nessa rotina da personagem, mas são justamente estes momentos que fazem do filme uma obra bastante incômoda sobre a realidade desta personagem real. Fico imaginando uma menina de dezesseis anos que é escolhida para ser a esposa de um homem mais velho e é tratada como uma espécie de propriedade preciosa, mas que precisa lidar com todos os percalços da personalidade complicada de seu parceiro. Cailee está ótima em cena e foi considerada a melhor atriz no Festival de Veneza do ano passado com justiça. Em sua interpretação podemos ver a montanha russa de emoções que se tornou a vida daquela adolescente, que precisou se tornar mulher à sombra das vontades de um dos homens mais famosos do mundo. Por outro lado, temos Jacob Elordi que não se parece com Elvis, mas consegue emanar um magnetismo irresistível, além de saber dosar os destemperos do cantor longe das câmeras na privacidade do lar. Existe algo de realmente angustiante nesta trama de conto de fadas virado do avesso, algo que o faz ser um filme complementar ao filme de Baz Luhrman. Pode não ser um filme perfeito, mas é um exercício narrativo instigante proposto pela diretora. O filme está em cartaz na MUBI.
Priscilla (EUA - Itália / 2023) de Sofia Coppola com Cailee Spaeny, Jacob Elordi, Ari Cohen, Dagmara Dominczyk, Tim Post, Lyne Griffin e R. Austin Ball. ☻☻☻
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