Inicialmente publicados em 1963, os X-Men se tornaram ao longo do tempo um dos grupos de heróis mais populares das histórias em quadrinhos. Criados para a Marvel pela dupla Stan Lee e Jack Kirby, eles se diferenciavam por serem vistos como aberrações pelo resto da humanidade, afinal era um grupo formado por mutantes, humanos que devido a mudanças genéticas provocadas por um salto evolucionário desenvolveram super poderes durante as mudanças hormonais e tensões da puberdade. A ideia fez com que os roteiristas não precisassem mais pensar em causas mirabolantes para os personagens desenvolverem poderes (um alívio). Criados em um momento em que a luta pelos direitos civis estava latente nos Estados Unidos, X-Men soube como utilizar a exclusão e luta por igualdade com aventuras em que o dilema de zelar pela humanidade ou rebelar-se contra o sistema era muito bem representado pelo embate de dois amigos, o professor Charles Xavier e o sobrevivente do holocausto Erik Lensher, mais conhecido como Magneto. Essa mistura de assuntos sérios deram aos X-Men uma base dramática bastante eficiente, que nunca perde a atualidade. Some isso ao fato de um grupo de excluídos formarem uma família dentro de uma escola e o apelo se torna ainda mais forte. Se nas HQs o grupo já tinha fã clube garantido, ele cresceu exponencialmente com o lançamento da animação produzida pela Fox em 1992 que durou cinco temporadas. A popularidade da animação pavimentou ainda mais o que parecia impossível, a produção de um longa-metragem sobre o grupo no ano 2000 pela FOX. Assim surgiu a bem sucedida franquia dos mutantes que se tornou uma das mais rentáveis do gênero, pelo menos até seu último filme já afetado pelas comparações com os parâmetros cinematográficos da Marvel. A ideia de que o universo cinematográfico da Marvel criaria sua versão dos personagens gerou grande expectativa entre os fãs, de forma que até agora ela só sugere esta incorporação em seus filmes. Diante de todos os tropeços que cometeu recentemente, tendo um dos seus grupos mais populares na gaveta (e o mesmo pode se dizer de Quarteto Fantástico que recentemente teve seu novo elenco divulgado), eu tinha a impressão que a Marvel estava com receio do que deveria fazer. Se retomar o mesmo elenco dos filmes é complicado, fazer uma animação continuando o sucesso animado dos anos 1990 parece bem mais fácil e foi exatamente o que realizaram ao conceberem X-Men'97. Lançando um episódio por semana no Disney+, a animação conta os eventos ocorridos após o último episódio que foi ao ar em 1997 e o faz de forma que serve de lição para os erros que a Marvel cometeu em sua última fase. A começar pela complexidade de seus personagens e a sensação de que todos estão em perigo já prende atenção por si só. Se usarmos como parâmetro um cachorro morto feito o último lançamento cinematográfico do estúdio, o roteiro de X-Men'97 se torna ainda mais brilhante. Aqui os ideais de Erik e Charles se confrontam mais uma vez e deixa o espectador no mesmo dilema dos heróis mutantes ao perceber os argumentos de cada um. Embora seja assustador ouvir que Magneto tem razão, em alguns momentos fica difícil discordar. Além disso, outros personagens ganham suas próprias tramas de forma envolvente, como Tempestade, Vampira, Jean e Ciclope, o que ajuda muito a plateia perceber que há muito mais a ser explorado aqui do que o popular Wolverine. A trama traz até um brasileiro para a trama, o Roberto Campos, o Mancha Solar, que tem destaque como novato da vez. Há quem ainda queira polemizar ao implicar com Morfo como não-binário arrastando uma asa pelo Wolvie, mas a coisa é feita com tanta discrição que as reclamações soam como algo de fã xiita. A partir da metade da temporada, X-Men'97 cresce em narrativa como se fosse um verdadeiro filme com F maiúsculo. É tenso, sofrido, angustiante e sabe como utilizar a polaridade de Xavier e Magneto para deixar o espectador apreensivo perante o inesperado. Se a Marvel seguir no mesmo tom para a chegada dos heróis nas telonas, já podemos começar a aplaudir. Enquanto a nova saga cinematográfica não vem, resta aguardar a nova temporada da animação que já está em fase de edição, o problema é a saída do redator chefe Beau de Mayo da produção pouco antes do lançamento deste sucesso sem motivo aparente. Ou seja, a Marvel ainda continua perdida nos rumos que deve seguir.
X-Men'97 (EUA-2024) de Beau de Mayo com vozes de Ray Chase, Cathal J. Dodd, Lenore Zann, Jennifer Hale, Holly Chow, Matthew Waterson, Ross Marquand e George Buza. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário