Toby: trabalho assustador. |
Nos anos 1960, o inglês engenheiro de som Gilderoy (Toby Jones) chega à Itália para trabalhar na sonoridade de um filme local. Ele é pego de surpresa quando descobre que se trata de um filme de terror, um dos chamados gialli (tramas policialescas sangrentas) que fizeram muito sucesso. Acostumado a trabalhar em documentários, o profissional fica em choque. O fato dele possuir uma personalidade introspectiva também complica o andamento do seu trabalho, especialmente com a tensão imposta pelo produtor (Antonio Mancino) que sempre adia o reembolso da passagem e o próprio pagamento pelo serviço. A coisa realmente não é como o moço esperava e piora ainda mais quando percebe as relações que pairam sobre o diretor e as atrizes responsáveis por dar vida (e gritos) às personagens do filme The Equestrian Vortex, sobre crimes, bruxarias e afins. O diretor britânico Peter Strickland constrói aqui uma verdadeira ode à importância do som na construção de uma narrativa, especialmente de horror, afinal, mesmo que não vejamos o filme em que Gilderoy trabalha, os barulhos envolvidos em sua feitura são arrepiantes. Tanto os gritos, quanto o som das melancias despedaçadas, repolhos esfaqueados e outros legumes torturados fazem a mente do espectador viajar perante as imagens que aquele personagem precisa conviver ao longo de várias semanas. O problema é que a própria história de vida de Gilderoy começa a aumentar ainda mais o seu incômodo perante tudo aquilo. Problemas com o pagamento, conflitos com a equipe, cartas da mãe, a solidão de estar em um território diferente e hostil, tudo colabora para que o cotidiano do profissional se torne um filme de terror (e não por acaso, por vezes, algumas situações vividas por ele se confundem com o que é visto no filme). Toby Jones prova mais uma vez que é um grande ator e carrega o filme nas costas ao expressar todo o incômodo do personagem até que se anestesie por completo na rotina estafante de seu serviço e embora o filme pareça perder o fio da meada lá pela metade, a forma hipnótica como apresenta o trabalho do engenheiro de som envolve o espectador com uma imersão sensorial incomum, esta qualidade faz com que o filme seja uma obra difícil de se abandonar pela metade. Estranho e fora da caixinha (como a maioria das obras de Strickland), se houver uma lista de filmes mais assustadores que não são de terror, Berberian Sound Studio merece um lugar de honra.
Berberian Sound Studio (Reino Unido / Alemanha - 2012) de Peter Strickland com Toby Jones, Antonio Mancino, Guido Ardoni, Susanna Cappellaro, Cosimo Fusco, Fatma Mohamed, Eugenia Caruso e Salvatore Li Causi. ☻☻☻
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