Os candidatos: interesses, competitividade e barbárie. |
Oito candidatos disputam a vaga em uma empresa. Enfileirados em carteiras de uma sala, com uma folha que os identifica apenas por números, eles recebem algumas instruções para os próximos oitenta minutos: não podem destruir a folha que tem em mãos, não podem tentar se comunicar com o segurança que os vigia ou com ninguém de fora da sala. No entanto, os candidatos ficam intrigados sobre o que precisam fazer no tal teste e uma série de acontecimentos inesperados começam a tomar conta da narrativa. No início a maior indagação é sobre a pergunta que precisam responder. Qual seria? Como descobrir qual é? Porém, no meio do processo, alguns segredos pessoais dos candidatos começam a deixar a disputa pela vaga ainda mais acirrada. O roteiro do diretor estreante Stuart Hazeldine ao lado de Simon Garrity começa de forma bastante trivial para depois desbravar um território cada vez mais sombrio com a postura de alguns personagens - e não faria feio nas temporadas mais recentes de Black Mirror (que a propósito foi lançada dois anos depois). A apresentação dos personagens é bastante eficiente nos minutos iniciais, ali conhecemos ao menos uma característica marcante de cada um deles para depois ver como o roteiro se desenvolve a partir de como reagem aos acontecimentos que se desenrolam. Eu achei interessante que no início eles são identificados por números, mas acabam aceitando ser classificados por suas características físicas, como se fossem rótulos que precisam funcionar num grupo fadado ao fracasso por seus interesses individuais. Se a primeira vista todos estão ali por um emprego, aos poucos sabemos que alguns possuem outros interesses vinculados à vaga. Em alguns casos, esse interesse está vinculado a um acontecimento que marcou todo o planeta (lembrando que o filme acontece em um tempo indefinido e antes da pandemia de Covid19), neste ponto, a estética minimalista futurista do cenário disponibiliza recursos para que as divagações dos personagens prossigam até que a maioria perca as estribeiras de vez. O filme tem momentos bastante tensos e algumas são difíceis de assistir, ao mesmo tempo lança um olhar interessante sobre como a competitividade pode despertar verdadeiros monstros. Embora o filme se enrole nas intenções em alguns momentos, consegue ser envolvente principalmente por conta do desenvolvimento dos personagens. Embora cada personagem tenha seu momento de destaque na narrativa, alguns recebem maior destaque no andamento da trama, sobretudo os masculinos, deixando as personagens femininas em segundo plano. É interessante ver como um chama atenção como líder para depois se tornar vilão da história e depois ter este posto embaçado por alguns concorrentes. Com um elenco desconhecido eficiente, Exame evolui como um suspense ao mesmo tempo em que a percepção da realidade de seus personagens se torna cada vez mais turva. É visível como cada um constrói sua bolha de verdades e se torna incapaz de enxergar qualquer coisa que o faça retornar à razão. Pelo empenho em prender a atenção do espectador ao longo da narrativa com os poucos recursos que dispõe, Exame foi lembrado no BAFTA em seu ano de lançamento na categoria de melhor estreia de um realizador britânico (que acabou premiando Duncan Jones por sua estreia reluzente com Lunar).
Exame (Exam / Reino Unido - 2009) de Stuart Hazeldine com Luke Mably, Chukwudi Iwuji, Gemma Chan, Jimi Mistry, Adar Beck, Nathalie Cox, Pollyana McIntosh, John Lloyd Fillingham, Colin Salmon e Chris Carey. ☻☻☻
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