Jérémie e Déborah: hora de crescer.
A Palma de Ouro do Festival de Cannes é um dos prêmios mais cobiçados do cinema. Além de sinalizar quem foi escolhido como o melhor do festival, o filme recebe uma projeção que, na maioria das vezes, lhe rende atenção ao longo de todo o ano cinematográfico (basta lembrar o fôlego que o ganhador do ano passado, Anatomia de Uma Queda, apresentou até recentemente). A 77ª edição do Festival francês termina amanhã com o anúncio do favorito deste ano e, para entrar no clima, o blog relembra nesse #FimDeSemana três filmes que foram aclamados com a Palma. Para começar escolhi A Criança, longa-metragem dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne. Os manos belgas são famosos por suas tramas com pessoas comuns enfrentando problemas sociais e geralmente aparecem em Cannes com suas produções (ao todo já concorreram nove vezes à Palma de Ouro), mas receberam o prêmio máximo do festival somente com este drama sufocante. O filme conta a história do casal Sonia (Déborah François) e Bruno (Jérémie Renier), ela acaba de sair do hospital com um bebê de oito dias, ele gasta o tempo aplicando golpes que lhe garantem algum sustento. Ao chegar no apartamento, Sonia já se depara com outra pessoa morando por ali e não entende muito bem o que está acontecendo. Quando ela encontra Bruno na rua, ele não parece muito animado com a ideia de ser pai. As cenas do casal junto parecem improvisadas e pretendem dizer o quanto os dois ainda são imaturos (pela idade ainda podem ser considerados adolescentes), no entanto, a coisa piora quando Bruno cogita vender a criança. No entanto, ele não comunica à Sônia os seus planos e você pode imaginar o que acontece. Se contar mais, estraga. A criança passa a conciliar o drama familiar com uma espécie de thriller, em que o rapaz tenta consertar o estrago que fez, mas precisa arcar com as consequências de suas atitudes numa espiral de acontecimentos envolvendo o submundo do tráfico de crianças. Os Dardenne apresentam a situação de forma bastante crua, sem pedir para que o público entenda ou perdoe as atitudes do rapaz, mas aos poucos deixam claro que a criança do título é o próprio Bruno. Temos a impressão que ele cresceu sem assumir responsabilidades e que agora precisa amadurecer. A mãe dele aparece rapidamente em cena e ele não parece ser bem vindo em casa. Seu comparsa de golpes é um adolescente de treze anos e Sonia não parece disposta a perdoar o namorado pelo que fez. A Criança soa até como um filme simples, filmado como se fosse um recorte do cotidiano daqueles personagens (que é o estilo dos diretores), mas difere na engenhosa construção de uma tensão crescente na vida perdida de Bruno. Esta capacidade de atribuir força à narrativas aparentemente simples é uma especialidade dos Dardenne, que levaram a Palma de Ouro daquele ano deixando para trás produções renomadas como Caché de Michael Haneke, Flores Partidas de Jim Jarmush, Manderlay e Lars Von Trier e Marcas da Violência de David Cronenberg.
A Criança (L'Enfant / Bélgica - França / 2005) de Jean-Pierre e Luc Dardenne com Jérémie Renier, Déborah François, Jérémie Segard, Fabrizio Rongione e Olivier Gourmet. ☻☻☻☻
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