domingo, 26 de maio de 2024

PL►Y: Esculturas da Vida

Michelle Williams: o cotidiano de uma artista indecifrável.

A diretora Kelly Reichardt lançou um dos melhores filmes de 2019: First Cow. O longa figurou em várias listas de melhores filmes do ano e esteve cotado para finalmente colocar a diretora no radar do Oscar... mas acabou ficando de fora. Tanta admiração pelo filme, deixou muita gente ansiosa para conhecer seu novo projeto. Foi assim que Showing Up chegou ao público cinéfilo, junto ao carimbo de ser um dos filmes selecionados para concorrer à Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2022. No entanto, quando assistiram ao filme se deram conta de que Kelly era a mesma cineasta de alma indie de sempre, com personagens simples, tramas sobre pequenos acontecimentos do cotidiano e a vontade de instigar o público a ver algo de interessante nisso tudo. De certa forma, First Cow também era assim, mas a ideia de contar uma anedota sobre a Primeira Vaca da América chama bem mais a atenção do que acompanhar o cotidiano de uma escultora rumo à sua aguardada exposição. No entanto, quem conhece a diretora sabe o quanto ela gosta de ir na contramão do que é esperado de seu cinema. Aqui nós conhecemos Lizzy (Michelle Williams, em sua quarta parceria com a diretora), uma artista que trabalha em uma escola de arte e prepara esculturas para sua exposição. Ela vive sozinha com seu gato em um apartamento alugado de uma colega, Jo (Hong Chau), que também é artista plástica e também está às voltas com sua mostra. Embora as duas sejam aparentemente próximas, existe uma tensão entre as duas, sobretudo por conta da relação entre inquilino e proprietário (e um chuveiro queimado no meio). Lizzy também visita o pai de vez em quando e se preocupa com o irmão (John Magaro), que é visivelmente instável e avesso ao uso de celular, além de ter contato com a mãe no local de trabalho todos os dias.  O que muda um pouco a rotina de Lizzy é um incidente envolvendo um pombo, o qual ela terá de tomar conta durante alguns dias ao lado de Jo. É sobre isso. Esculturas da Vida (o estranho título que resolveram dar ao filme por aqui) segue a rotina da personagem sem maiores sobressaltos, como se buscasse uma história para contar, mas que pode dar a impressão que não a encontra. Acontece uma coisa aqui, outra ali e resta criar associações entre a protagonistas e suas esculturas que anseiam por movimento, mas estão estáticas para apreciação (assim como ela) e, em determinado momento, existe a analogia do pombo, que precisa se recuperar para alçar novos voos. O filme está longe de ser exuberante ou envolvente, mas ao girar em torno de uma personagem que se revela de forma tão discreta ao espectador, torna-se bastante sensível ao nos fazer imaginar a história que existe por trás de sua construção. O mais interessante é ver que Kelly Reichardt não está nem aí para o que esperam de seus projetos. Filma o que quer, como quer, talvez por isso este filme gire em torno de artistas na construção de suas obras a serem colocadas para apreciação. O longa, disponível no TeleCine, concorreu ao Gotham Awards de melhor filme e melhor atriz (Williams) e foi recebeu o prêmio Robert Altman no Independent Spirit Awards.

Esculturas da Vida (Showing Up /EUA - 2022) de Kelly Reichardt com Michelle Williams, Hong Chau, John Magaro, Andre Benjamin, Maryann Plunket e Theo Taplitz.

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