Marcelo e Leonardo: batalhas acadêmicas.
Marcelo Pena (Marcelo Subiotto) parece estar bem tranquilo ministrando aulas de Filosofia na Universidade de Buenos Aires, embora seu renomado mentor tenha recentemente falecido por conta de um infarto, as coisas parecem que irão se organizar para que os alunos não fiquem sem aula até que um novo professor ocupe a responsabilidade sobre a disciplina de Filosofia Política. Entre movimentos estudantis e encontros com a comunidade acadêmica, tudo parecia seguir como antes até que Rafael Sujarchuk (Leonardo Sbaraglia) reaparece após uma temporada dando aulas na conceituada Universidade de Frankfurt e cause certo burburinho entre professores e alunos, afinal, Sujarchuk ganhou atenção da mídia recentemente por namorar uma estrela de cinema. Pena e Sujarchuk foram alunos do falecido e não poderiam ser mais diferentes, se Pena é a discrição em pessoa, o outro adora os holofotes que vez por outra se voltam para ele. Obviamente que ao vermos o primeiro encontro de ambos em PUAN vemos se estabelecer ali a semente de uma certa rivalidade, uma sensação de que haverá uma disputa entre os dois, menos pela cadeira que acaba de ficar vaga na Universidade, mas sobre quem é mais digno de atenção. Enquanto Rafael é todo concebido para ser um galã, Pena é moldado como uma homem comum, que precisa lidar com os compromissos, as tarefas de uma esposa engajada e um filho que paira sobre os dois sempre atento ao que está acontecendo. O roteiro e a direção da dupla María Alché e Benjamín Naishtat acerta quando segue o cotidiano de Marcelo Pena no que ele tem de mais comum, do encontro com os amigos, na vida domiciliar, nos momentos com os alunos e faz com que o ótimo Marcelo Subiotto transpire aquela estranha sensação de que sem a sombra do seu mentor, irão descobrir que ele é um impostor, sobretudo com a chegada de um acadêmico tão renomado como Sujarchuk. No entanto ele está longe de ser isso, é sobre esta descoberta que o filme trata, o que interessa é a forma como Marcelo irá aos poucos tomar as rédeas de seu lugar naquele espaço por mérito próprio, sem jogadas de marketing ou truques emocionais. O próprio Marcelo precisa reconhecer o seu valor, como se Sócrates dissesse a todo instante "conhece-te a ti mesmo" em sua calejada consciência. É verdade que o filme utiliza um golpe baixo desnecessário com toda aquela bobagem sobre uma fralda suja, que recai sobre o personagem como a materialização grotesca de um desconforto de que a qualquer momento ele "será descoberto", mas sorte que é que depois o filme engata em um senso de humor diferente que cai como uma luva às questões internas que o personagem precisa lidar. Puan retrata um pouco da escaldada vida acadêmica no constante tempo de crise pela América Latina, mas consegue fazer isso com leveza e bom humor, o que não é tarefa fácil, embora ele até faça pensar o contrário. Com alfinetadas sutis aqui e ali, o filme é um acerto. O longa está em cartaz no Prime Video e merece ser descoberto.
PUAN (Argentina, Alemanha, França, Itália, Brasil - 2023) de María Alché e Benjamín Naishtat com Marcelo Subiotto, Leonardo Sbaraglia, Andrea Frigerio, Cristina Banegas, Lali Espósito, Julieta Zylberberg e Zulema Galperín. ☻☻☻
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