Annie e Alvy: um dos melhores casais de todos os tempos.
Acho que o filme mais celebrado de Woody Allen é Annie Hall (que aqui no Brasil recebeu o nome meio abobado de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa - o que é uma grande maldade, já que o personagem de Allen pode até ser neurótico, mas a noiva Annie Hall feita por Diane Keaton está longe de ser nervosa). Ganhador dos Oscars de Filme, direção, atriz e roteiro original, o filme é cultuado até hoje como uma das melhores comédias românticas de todos os tempos, sem dúvida o mérito está no tom moderno que Woody Allen utiliza para contar uma história de amor como tantas outras, inserindo elementos que beiram o surreal - isso em 1977. Logo de início quando o comediante Alvy Singer (Woody Allen) nos apresenta a sua infância (com a casa construída embaixo de uma montanha russa) vemos que o filme, apesar de realista, tem um pezinho no mundo muito próprio de seu autor. Singer é um ator que vive de seus espetáculos stand up - pois é, lamento informar, esse tipo de humor não é novidade. Mesmo com toda a pompa típica do personagem criado de Allen para si, ele não tem problema em conquistar a mulherada com suas piadinhas intelectualizadas e suas neuroses (entre suas conquistas está Shelley Duvall que ficou famosa fazendo a Olívia Palito do filme Popeye/1980 de Robert Altman e mais ainda como a esposa perseguida de O Iluminado/1980). O mundo de Alvy começa a ter mais graça quando ele conhece a cantora Annie Hall (Diane Keaton), com quem viverá uma história de amor onde as diferenças e brincadeirinhas do casal rendem momentos bem divertidos - estes momentos vão desde o desastrado preparo de lagostas até a antológica cena em que Annie observa-se na cama com Alvy (e este percebe que ela está "desconectada"). As diferenças do casal servem para pontuar uma série de aspectos muito comuns aos relacionamentos da década de 1970 (o ciúme em meio ao sexo livre, o uso de drogas, as referências psicanalíticas que estavam no auge...), mas o maior achado do filme são os elementos narrativos bastante originais utilizados por Allen para contar este relacionamento conforme enfrenta sua crise conjugal - existem momentos em que o casal visita o passado de um deles com a intenção de refletir sobre a relevância daquele momento, falas destinadas ao espectador (especialmente quando o casal se aventura a ir ao cinema) e a postura descolada dos protagonistas que tem toda a relação com a cidade que está a sua volta: Nova York. Basta dizer que precisa sair da cidade para ver Alvy entrar em crise - como se reconhecesse que aquele é o seu habitat natural e fora dali suas referências não funcionam. Além de bem escrito e moderninho, o filme não esconde o fato de ser uma declaração de amor para Diane Keaton - com quem Allen namorou por um tempo. A personagem Annie Hall foi totalmente inspirada na atriz, que a completou criando um tipo bastante feminino vestindo roupas masculinizadas - o que se tornou uma inspiração para um bando de mulheres quando o filme foi lançado. A semelhança de Diane com Annie chegou a criar polêmica quando recebeu o Oscar de melhor atriz (afinal, ela estava interpretando a si mesma?), mas sua capacidade de borrar as fronteiras da ficção e da realidade de forma tão adorável merecia mesmo um prêmio (e o fato de Allen sempre zelar pelo improviso ajuda muito). Diane está apaixonante no filme e podemos sentir os mesmos sentimentos de Alvyn quando o filme chega ao fim. A ausência de sua amada merecia mesmo um exorcismo bem humorado como este filme.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall/EUA-1977) de Woody Allen com Woody Allen, Diane Keaton, Paul Simon e Christopher Walken. ☻☻☻☻☻
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