Juliette, Gabriel e Romeo: tragédia iminente.
A Guerra Está Declarada tinha tudo para ser um grande melodrama, mas surpreende ao seguir um caminho completamente diferente. No começo parece uma típica comédia romântica quando Juliette (Valérie Donzelli) conhece Romeo (Jérémie Elkaïm), e quase que em uma profecia ele diz que estão fadados a viver uma grande tragédia. Os dois namoram e moram juntos e, com a agilidade da narrativa, logo ela engravida e tem um lindo bebê. De início creditamos à imaturidade de ambos as constantes reclamações de que o menino está sempre chorando. Com um olhar mais atento, eles percebem que a criança não anda como as outras de sua idade. Quando vai para a creche, as diferenças do bebê com os outros ficam ainda mais evidentes, especialmente quando a cabeça do menino está sempre pendendo mais para um lado. Assustados, os pais de primeira viagem vão ao médico e o diagnóstico é cruel: o bebê tem um tumor no cérebro. Diante do tom impresso até aquele momento no filme, é com o mesmo choque dos personagens que recebemos a notícia - e a metáfora anunciada no título faz todo o sentido (de início eu estava pensando que era alguma alusão aos Capuletto e Montechio), já que o câncer invade a vida do casal, mudando suas rotinas, expectativas e esperanças. Baseado na história real vivida pela diretora e protagonista Valérie Donzelli e o ator Jérémie Elkaïm (que assinam o roteiro), o filme fez sucesso perante a crítica pela forma diferente como aborda um tema doloroso, no entanto, parte do público estranhou a abordagem da diretora, que ao invés de cenas chorosas, preferiu mostrar como os pais da criança seguiam suas vidas além do ambiente hospitalar. Valérie sabe que com um bebê doente não precisa de muitos recursos para mostrar que a dor está presente. A doença é um constante subtexto, como um fantasma que assombra a jovem família - e muitas vezes eu ficava pensando se eu aguentaria ver meu filho no hospital passando por tudo aquilo com os médicos sempre me dizendo as piores expectativas. Donzelli constrói cenas interessantes (como a cena trêmula da corrida no corredor, ou o casal dialogando em locais diferentes através de uma canção agridoce) e outras que podem parecer um tanto soltas na narrativa. Existem cenas bastante triviais da realidade entre Juliette e Romeo, mas que expressam como aos poucos a situação que vivenciam juntos corrói o amor. Cheio de floreios criativos inesperados e tilhas sonora esperta, A Guerra Está Declarada foi indicado pela França para concorrer a uma vaguinha ao Oscar de filme estrangeiro em 2012 (é engraçado que os franceses o consideraram mais interessante que oscarizado O Artista), mas ficou de fora. Talvez a Academia - assim como parte do público - não tenha entendido a proposta da diretora em contrapor a tragédia iminente com vidas que teimam em prosseguir.
A Guerra Está Declarada (La Guerre est déclarée/França - 2011) de Valérrie Donzelli com Valérie Donzelli, Jérémie Elkaïm, Brigitte Sy e César Desseix. ☻☻☻
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