J. Smith Cameron e Anna: ideias demais.
Anna Paquin é um caso raro de atriz que se consagra na infância e que continua a carreira com respeito na fase adulta. Nascida no Canadá em 1982 e criada na Nova Zelândia, desde os quatro anos, Paquin foi descoberta pelo mundo quando filmou O Piano de Jane Campion. A atriz tinha onze anos na época e, até hoje, é a segunda atriz mais jovem a ganhar um Oscar. Versátil, a moça já apareceu em comédias (Quase Famosos/2000), dramas (Encontrando Forrester/2000), filmes de ação (a primeira trilogia X-Men), terror (Escuridão/2002) e protagoniza desde 2008 a cultuada série True Blood (onde conheceu o esposo, Stephen Moyer com quem tem dois filhos gêmeos). Anna foi até pré-candidata novamente ao Oscar por sua complexa atuação em Margaret, filme de Kenneth Lonergan. Se Lonergan não fosse tão megalomaníaco em sua obra, a atriz poderia ter até cravado uma indicação. Com excessivas duas horas e meia de duração, muitos podem considerar o filme um teste de paciência pelo excesso de ideias que aparecem todo o tempo, outros vão perceber como uma tentativa de retratar a inquietação juvenil por repostas que não foram encontradas. Lonergan (indicado ao Oscar de roteiro original pela sua estreia na direção em Conta Comigo/2001 e pelo texto de Gangues de Nova York/2003) parece totalmente descontrolado ao contar as histórias em que sua protagonista se envolve. Lisa Cohen (Paquin) é uma jovem que vive todos os conflitos da adolescência. Sabe que tem um menino que gosta dela, mas prefere um garoto problema que namora uma amiga - mas de vez em quando flerta com um professor (Matt Damon). Em casa se ressente da mãe atriz (J. Smith Cameron) estar preocupada com uma nova peça - enquanto Lisa se irrita com o irmão caçula sempre que nota que ele está por perto. Seu melhor vínculo familiar parece ser com o pai (vivido pelo próprio diretor), que tem conversas burocráticas com ela - sempre à distância depois do divórcio. Na escola, Lisa parece uma bomba prestes a explodir quando os colegas discordam o que tem a dizer, enfim, se Lisa não é uma chata está muito perto de se tornar uma. O principal do filme é que, apesar de todos esses dilemas, ela se culpa de ter provocado um atropelamento que acarretou a morta da vítima em seus braços (Alisson Jeaney em memorável participação). Essa situação de grande força dramática é o principal motivador do filme. A tragédia urbana aparece na tela com toda a força que lhe é possível e as lágrimas são inevitáveis. A morte aparece implacável quando o que temos é um fiapo de esperança nos momentos iniciais do filme. O que poderia ser um divisor de águas na trivialidade vivida por Lisa quase se perde em meio a um monte de situações que podem ter a intenção de mostrar o desajuste da personagem, mas serve apenas para distribuir pontas soltas na narrativa. É até fácil acompanhar o namoro da mãe com o latino Jamon (o francês Jean Reno) nas entrelinhas, mas para cada duelo intenso de seu elenco existem um bocado de cenas desnecessárias. Sorte que Paquin se rende a todos os defeitos de Lisa, muitos deles motivados pelos hormônios superlativos da adolescência - é interessante como o filme parece traçar um paralelo entre essa "juventude" com o tom operístico. Mostrada como egoísta, mesquinha e até cruel, sua expiação acontece através da culpabilização do outro (no caso o motorista vivido por Mark Rufallo) - talvez por isso o roteiro solta comentários sobre o nazismo. Essa intensidade de Lisa encarar o mundo cansa - e o espectador só tem um refresco quando o diretor nos embala com cenas em câmera lenta e bela trilha sonora. Com alguns cortes certeiros, o filme seria mais enxuto e poderia ser até apreciado por seu brilhantismo, mas, do jeito que está, parece um exercício pretensioso.
Margaret (EUA/2011) de Kenneth Lonergan com Anna Paquin, J. Smith Cameron, Jean Reno, Mark Rufallo, Matthew Broderick, Kieran Culkin, Jeannie Berlin e Allison Janney. ☻☻
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