Os filhos e Hermínia: colagem histérica de todas as mães do universo.
O comediante Paulo Gustavo é uma peça. Talvez tenha herdado essa característica da própria mãe que lhe inspirou os trabalhos mais rentáveis e sua carreira. No teatro, Minha Mãe é Uma Peça é um sucesso de público e crítica há seis anos e, diante do desespero dos produtores brasileiros em fazer filmes que ultrapassem um milhão de espectadores, era quase inevitável que o espetáculo virasse um filme. Quem conhece a peça sabe que era um monólogo em que o ator vestia a personagem e contava episódios de sua vida. No palco funciona que é uma beleza - já que o teatro ainda consegue construir uma estrutura surreal que no cinema não costuma agradar. Para fazer o filme, seria menos convincente se aquele homem vestido de mulher com rolos no cabelo falasse para a câmera o tempo inteiro. Sendo assim, para costurar seus causos era importante ter uma intelocutora em cena antes que a narrativa em off embalasse as encenações dos episódios da vida da histérica Hermínia. É verdade que existe uma grande fragilidade nos elos estabelecidos para dar início, meio e fim ao filme, mas o tom elétrico de Paulo Gustavo faz toda a diferença quando a maior pretensão do filme é fazer o público gargalhar - e isso ele consegue com louvor. Dona Hermínia (Paulo Gustavo) tem um jeito hiperativo de ser, que depois do divórcio serviu para deixá-la ainda mais cuidadosa com os filhos Marcelina (Mariana Xavier) e Juliano (Rodrigo Pandolfo). Marcelina parece ter problemas de ansiedade e não para de comer, já o garoto é homossexual e tem que driblar algumas mancadas da mãe. Existe ainda um terceiro filho, que casou e vive em outro estado com a família - para desespero da mãe que sempre considera que ele não a procura como deveria. Apesar de bem intencionada, Hermínia ainda não aprendeu que os filhos cresceram e que suas intervenções causam mais constrangimento do que qualquer outra coisa. Não por acaso, ela descobre que os filhos a consideram uma chata e, magoada, a mãezona vai morara com uma tia (Suely Franco), que serve de confidente para as lembranças e mágoas. Entre ataques aos filhos, ex-marido (Herson Capri), a atual esposa dele (Ingrid Guimarães), vizinhos e entrevistados, Hermínia parece uma colagem de todas as mães do universo. Suas neuroses, paranoias e inseguranças resultam em uma grande caricatura que funciona como se fosse de carne e osso graças ao talento de Paulo Gustavo. Seu jeito acelerado de falar e fazer os comentários mais indiscretos são o que garantem a maior graça do filme. Não existem piadas prontas, apenas um olhar astuto sobre os acontecimentos do cotidiano daquela personagem (que se parece com o de muitas pessoas) - e que basta para a diversão do público. A direção de André Pellenz consegue parecer uma versão tupiniquim televisiva da estética de Pedro Almodóvar (o que tem tudo a ver com um homem travestido como protagonista), alcançando o tom certo quando precisa ser contido ou rasgado. O ponto fraco mesmo é o final da história, que mais parece o anúncio de uma continuação - que será muito bem vinda! Com sucesso no teatro, cinema e televisão, Paulo Gustavo tornou-se o grande comediante do ano. Para provar que não falta coragem ao rapaz, ele ainda ousa terminar os créditos com cenas de sua própria mãe mostrando de onde nasceu a Dona Hermínia.
Minha Mãe é Uma Peça (Brasil-2013) de André Pellenz com Paulo Gustavo, Suely Franco, Herson Capri, Ingrid Guimarães, Rodrigo Pandolfo, Mariana Xavier, Alexandra Richter, Georgiana Góes e Samantha Schmütz. ☻☻☻
Minha Mãe é Uma Peça (Brasil-2013) de André Pellenz com Paulo Gustavo, Suely Franco, Herson Capri, Ingrid Guimarães, Rodrigo Pandolfo, Mariana Xavier, Alexandra Richter, Georgiana Góes e Samantha Schmütz. ☻☻☻
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