Benoît e Laetitia: sadomasoquismo e inversão de papéis.
Considero filmes sobre amores estranhos sempre interessantes, mesmo quando as ideias não são bem aproveitadas. Uma História de Amor é o típico filme que é classificado como polêmico ao chegar nos cinemas e, embora tenha um roteiro que parece correr atrás do próprio rabo por quase hora e meia de duração, tem alguns elementos que prendem a atenção do espectador. Um que mostra-se fundamental para o interesse na trama é a dupla central encarregada de defender as tintas de um casal adepto de práticas sadomasoquistas - cujo os papéis se invertem entre a vida social e as quatro paredes. A atriz francesa Hélène Fillières foi sábia em escolher Benoît Poelvoorde e Laetitia Casta para protagonizar seu primeiro longa metragem na direção. Poelvoorde interpreta um banqueiro arrogante que coleciona armas e manias de perseguição, para ele o mundo é uma grande conspiração contra sua pessoa milionária. Laetitia é uma mulher que começa a ter um caso com ele após uma festa e inicia um tórrido romance de tintas sadomasoquistas. Na vida social ele é um sádico, pedante e cheio de si, humilhar as pessoas ao seu redor é o esporte favorito - principalmente a modalidade de chamar a amante de prostituta a toda instante. Na cama ele se entrega ao papel de masoquista. Aprecia mordaças, agressões, cordas e toda a sorte de elementos que possam lhe proporcionar dor. Ela, que mostra-se submissa em sua companhia em eventos e restaurantes, mostra-se uma eficiente dominatrix, que debaixo de toda aquela sedução, demonstra um pouco do sabor de vingança nos momentos de prazer que compartilham. Aos poucos percebemos como essa troca de papéis os excita na vida social e íntima, porém, ao mesmo tempo, a relação entre ambos revela traços obscuros de suas personalidades. Afinal, Benoît ressalta a verdadeira obsessão de seu personagem: a morte, enquanto Laetitia sempre deixa uma incógnita sobre seu relacionamento com o outro homem que acreditamos ser seu esposo (ou cafetão?). Apesar de andar em círculos, Uma História de Amor tem seus méritos na forma elegante em contar um romance de traços fortes escondido sob um nome explicitamente lírico (tradução literal do título francês) e desbravar como o amor pode ressignificar ações dentro de uma relação. Nesse processo, fiquei surpreso como Benoît Poelvoorde se afasta de sua aparência quase cômica (vista em várias comédias francesas como o recente Românticos Anônimos/2010) na composição de um personagem que se equilibra entre a sedução e a repulsa com bastante desenvoltura - tanto que encara até uma reveladora cena de nudez aos 49 anos. Da mesma forma, a beldade Laetitia Casta surpreende numa atuação sutil que demonstra seu amadurecimento como atriz depois de longa carreira como modelo. Os dois conseguem encarnar os dois lados de seus personagens com bastante competência, numa química interessante e quase improvável. Considero que os dois conseguem fazer do filme uma experiência melhor do que o roteiro previa.
Uma História de Amor (Une Histoire D'Amour/2013) de Hélène Fillieres com Benoît Poelvoorde e Laetitia Casta, Richard Bohringer e Reda Kateb. ☻☻
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