Uma amiga me perguntou o motivo dessa epidemia de filmes relacionados à Legião Urbana. Honestamente, eu não conseguia imaginar uma resposta melhor do que o fato da obra de Renato Russo & Cia estar completando três décadas de existência. É verdade que enquanto a Legião Urbana é a banda de rock brasileiro mais cultuada de todos os tempos, Plebe Rude virou cult para os politizados e o Capital Inicial se tornou tão pop quanto a maioria das bandas da década de 1980 que tentam persistir ainda hoje. Rock Brasília - A Era de Ouro é um documentário realizado por Vladimir Carvalho, que na década de 1980, acompanhou a ascensão de algumas dessas bandas, com direito a entrevistas e tudo mais. Existem várias cenas de arquivo e entrevistas, nesse ponto o documentário é bastante rico ao enfatizar o período histórico que o Brasil atravessava e as manifestações que pipocavam em Brasília. Assim, o filme serve de complemento para a versão xarope da vida de Renato Russo em Somos Tão Jovens (2013). Cenas de manifestações são tão marcantes para o período quanto as primeiras bandas que surgiam motivadas pelo movimento punk na Inglaterra. O filme deixa claro que não poderia haver um lugar melhor para nascer essa influência na juventude tupiniquim, afinal, os filhos de diplomatas que viviam em Brasília formavam a ponte ideal para o que se ouvia lá fora e os anseios da juventude brasileira numa sociedade que lidava com o ranço do governo militar e ditaduras. Assim, fica fácil entender como nasceram as letras politizadas da Plebe Rude e os momentos de mais rebeldes da Geração Coca-Cola da Legião Urbana. As conversas com músicos e familiares conseguem expressar certa nostalgia, mas também, como aquelas composições eram impregnadas de ideias. É verdade que Carvalho reserva mais espaço para a trajetória de Renato Russo do que para as outras bandas, mas o fato da trajetória desses músicos se misturarem na capital nacional consegue deixar a coisa com certo equilíbrio. É interessante ver o documentário resgatar o motivo da Legião Urbana detestar fazer shows (o último deles em Brasília foi quase um massacre), membros da Plebe lembrando seus embates com o Paralamas do Sucesso ou a presença dos Titãs em alguns programas de televisão, além disso tem Dinho Ouro Preto lembrando que era um novato num movimento que tentava ser absorvido pelo mainstream. Dos shows quase amadores, passando pelo contato com gravadoras, produtores e programas de TV (Renato Russo no programa Chico & Caetano é arrepiante) até o momento em que as bandas enfrentam seus problemas pós-adolescência (a morte de Renato Russo, o fim do Capital Inicial, a dissolução da Plebe Rude por motivos variados) o filme consegue ser um retrato até exaustivo daquela época. Se fosse mais dinâmico, o filme poderia ser menos exaustivo, mas o formato quadradinho que Carvalho dá ao seu filme deixa a desejar, fazendo o resultado final parecer um especial de TV. Não há ousadias em sua narrativa, pelo contrário, ele parece querer tornar tudo meio datado, nostálgico e até piegas - prova disso é o desfecho inexplicável com uma entrevista com o pai de Fê Lemos (membro fundador do Aborto Elétrico e conhecido baterista do Capital Inicial, mas que o diretor achou que não tinha cacife para bancar a cena final). Sorte que sobra bons elementos num dos movimentos mais importantes da música brasileira para salvar um documentário de formato que funciona como paradoxo ao que exibe.
Rock Brasília - A Era de Ouro (Brasil-2011) de Vladimir Carvalho com Fê Lemos, Phillipe Seabra, Dado Villa Lobos, Dinho Ouro Preto e Marcelo Bonfá. ☻☻☻
Seabra: salvando um documentário quadradinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário