Garner: espécie de Desperate Housewive psicótica.
Não é fácil ser Jennifer Garner. Depois de protagonizar um dos melhores seriados de ação da década passada (a celebrada Alias que durou de 2001 até 2006 sob a batuta de J.J. Abrams), receber prêmios e ser apontada como a nova Julia Roberts (sempre tenho a impressão que Hollywood procura isso, não sei exatamente o motivo, mas Sandra Bullock e Julia Ormond também ouviram a mesma coisa) ela foi deixada meio de lado depois de protagonizar filmes que não decolaram (sobretudo a personagem dos quadrinhos Elektra/2005, mais conhecida como namorada do Demolidor/2003 de Ben Affleck). Se a carreira tem seus tropeços, Jennifer parece feliz no casamento com Ben Affleck (que já dura nove anos, uma eternidade para os astros do cinema) e seus três filhos (duas meninas e um menino) para cuidar. Entre uma licença maternidade e outra, Jennifer encontra refúgio em filmes independentes que costumam funcionar (basta lembrar de Juno/ 2007 ou o recente Clube de Compras Dallas/2013 ambos indicados ao Oscar de Melhor Filme). Em 2011 ela chegou a produzir esta comédia de costumes que tinha a ambição de lhe garantir, pelo menos, um lugar no páreo do Globo de Ouro, mas o filme teve problemas com a distribuição durante a temporada de ouro nos EUA e acabou sendo exibido somente em festivais, - sendo exibido em poucas salas, obtendo uma carreira inexpressiva no cinema. Dito isso, o filme pode até assustar, mas Butter está longe de ser um desastre, mas talvez a ideia de chamar um filme de "manteiga" e contar uma história ambientada em concursos de esculpir o laticínio não tenha rendido uma boa campanha de divulgação. O diretor Jim Field Smith acerta no tom de deboche com que apresenta seus personagens e mostra que não se pode levar a sério quem vê um concurso desses como sua única forma de subir na vida - esse é o problema de Laura (Jennifer Garner). Debaixo de sua casca de esposa perfeita, percebemos que existe algo meio fora do eixo em sua vida quando dela decide assumir a carreira do esposo, Bob (Ty Burrell), que ficou famoso por criar esculturas inovadoras em manteiga. Com Bob aposentado, ela acredita ter técnica suficiente para derrotar seus oponentes, até que uma criança (a carismática Yara Shahidi) torna-se sua maior oponente. Se Laura não consegue convencer nem a enteada (que a detesta), imagina como ela enfrenta uma menina fofa, talentosa e com histórico de vida cheio de dramas (foi abandonada pela mãe, viveu em orfanato é adotada... o que rende um hilariante discurso sobre os ganhadores do American Idol). Enquanto a menina encontra os pais adotivos que pediu a Deus - vividos por Rob Corddry e... Alicia Silverstone (!!!) em um bom momento -, o roteiro demonstra que nem tudo é perfeição na vida de Laura e Bob (ela está prestes a cair na lábia de um ex-namorado vivido por Hugh Jackman e Bob é amante de uma stripper vivida por Olivia Wilde). Quando a competição deixa Laura a beira do surto resta a ela apelar para o que o título anuncia. É verdade que o diretor não poupa os personagens de um tom caricatural, mas a coisa funciona de forma bastante eficiente. Apesar do filme não ter alcançado o sucesso que esperava, Jennifer Garner consegue construir uma personagem bastante interessante, uma espécie de irmã mais nova da personagem de Annette Bening em Beleza Americana/1999 (o filme em geral parece um irmão menor do celebrado longa de Sam Mendes), já que Laura não tem noção do quanto está deslocada no universo que escolheu para si e, por isso mesmo, faz Butter ser mais interessante do que ambiciona. O filme também vale a pena para ver Hugh Jackman num papel mais cômico do que estamos acostumados a vê-lo.
Butter - Deslizando na Trapaça (Butter/EUA-2011) de Jim Field Smith com Jennifer Garner, Yara Shahidi, Ty Burrell, Olivia Wilde, Hugh Jackman, Alicia Silverstone e Rob Corddry. ☻☻☻
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