Mads: nem sempre o passado é mais seguro.
Existem filmes que dariam um ótimo episódio seriado Além da Imaginação, o dinamarquês A Porta é um desses. O filme funciona bem no seu misto de drama e suspense, conseguindo manter o interesse mesmo quando sua trama fica mais estapafúrdia. Tenho que ressaltar que ter no alto dos créditos um ator do porte de Mads Mikkelsen ajuda bastante a desbravar o filme. Ele encarna David, um artista plástico que coleciona amantes, apesar de ser casado e ter uma filha. David é um sujeito tão descarado que tem um caso até com a vizinha sem que a esposa desconfie. É por conta de um desses encontros secretos que ele deixa a filha sozinha em casa... e ela morre num acidente. Cinco anos se passam e vemos que David ainda não se recuperou da perda e da culpa que sente. Além disso, sua carreira foi pelo ralo, a esposa o deixou e resta a ele vagar por aí até que sua vida termine. Eis que numa dessas noites de depressão, David encontra uma caverna que revela-se uma espécie de fenda no tempo. Passando por ela, David retorna ao dia fatídico que mudou sua vida e consegue mudar o rumo das coisas ao salvar a filha do terrível acidente. O problema é que nem tudo são flores, já que, David encontra consigo mesmo no dia em que retorna ao passado e após uma briga acaba sendo o único David a existir (?!). Ficou confuso? A coisa piora depois. A filha dele observa que algo estranho aconteceu e resta a ele convencer a esposa (Jessica Schwarz) que tudo continua como antes. Baseado no livro de Akif Pirinçci, o roteiro de Jan Berger consegue ser bastante engenhoso ao não deixar claro ao espectador se tudo o que acontece é um delírio de David ou se realmente está acontecendo. Essa ambiguidade faz o que o filme tem de mais surreal funcionar amparado pelo desejo do espectador de mudar algo em seu passado, voltar a um ponto onde poderia mudar o rumo dos fatos e deixar tudo mais feliz, ou pelo menos, aparentemente. Na jornada de David pelo passado, ele ainda tem algumas coisas a acertar, já que seus casos extraconjugais ainda se mostram pedras no caminho de seu relacionamento com a esposa - que já precisava ser resgatado. Mads (que deve ter um dos rostos mais exóticos do cinema) consegue demarcar as emoções do personagem com precisão a cada transição do personagem, sempre deixando claro que ele esconde um doloroso segredo perante os que o cerca. O filme fica mais complicado quando a vida no passado é menos confortável do que parece, não apenas por conta das ações do protagonista, mas porque outras pessoas voltaram ao passado e precisaram se livrar de sua versão de cinco anos atrás - o que coloca em riscoa vida de todos, inclusive de sua esposa. Enquanto utiliza os dramas dos personagens para construir o suspense o filme funciona bem, quando começa a parecer um filme de terror com assassinatos e conspirações o filme perde um pouco do fôlego, se parecendo com vários outros do gênero, ainda assim, o filme comprova que a Dinamarca anda com uma cinematografia bastante interessante.
A Porta (Die Tür/Dinamarca-2009) de Anno Saul com Mads Mikkelsen, Jessica Schwarz, Tim Seyfi e Valeria Einsenbart. ☻☻☻
A Porta (Die Tür/Dinamarca-2009) de Anno Saul com Mads Mikkelsen, Jessica Schwarz, Tim Seyfi e Valeria Einsenbart. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário