Bateman e Melissa: frutos de uma dura transição.
Ainda que hoje pareça que não existe tanto preconceito do artista que transita do cinema para a televisão, o inverso ainda não é tão evidente. A TV está aberta para astros do porte de Woody Harrelson, Kevin Bacon, Matthew McConaughey e Al Pacino, mas o cinema ainda resiste em abrigar os talentos da telinha. É verdade que existem artistas que dão sorte e conseguem uma transição tranquila de uma mídia para outra, já outros nem tanto. A comédia Uma Ladra Sem Limites traz dois exemplos do árduo processo de ganhar a vida na tela grande: Jason Bateman e Melissa McCarthy. Bateman ficou famoso com a elogiada série Arrested Development, que em 2013 foi ressuscitada. Jason está sempre fazendo filmes, mas seus papéis são sempre muito parecidos, ou seja, conseguiu fincar um tipo entre os produtores de Hollywood e quando conseguir subvertê-lo irá surpreender e ganhar prêmios. O difícil é conseguir sair da camisa de força que é o estereótipo no cinema... já McCarthy deu mais sorte, depois de utilizar seu tipo rechonchudo para construir personagens adoráveis na televisão (como em Gilmore Girls ou em Mike & Molly), no cinema ela prefere investir em personagens diferentes do que a TV gosta de apresentá-la. Foi assim que ela conseguiu vaga nas premiações como a madrinha abrutalhada de Missão Madrinha de Casamento (2011) e tem ganho o pão em produções como essa. Melissa tem se mostrado ótima em construir tipos diferentes para si e aqui ela se torna a maior graça de um filme que estica sua única piada ao limite. Sandy Patterson (Bateman) é o cara certinho que descobre que seu nome está manchado por conta da ação de um ladrão que clonou sua identidade - e o fato de ter um nome unissex facilita ainda mais a empreitada. Diante da burocracia da ação da polícia ele só poderá tomar alguma providência depois que cassar o estelionatário por sua própria conta e risco. É assim que ele encontra uma vigarista (McCarthy) que acostumou-se a ganhar a vida contraindo dívidas através de identidades falsas. Apesar a habilidade habitual de Jason, é Melissa que garante as risadas em cenas absurdas e até sórdidas (a noite no motel com um convidado especial da série Modern Familly é bastante estranha). Ainda que o roteiro saiba explorar a situação com tudo que ela pode proporcionar de absurdo no início, aos poucos o filme humaniza sua vilã e a mostra quase como uma vítima do sistema. Fosse feito nos anos 1980, Uma Ladra Sem Limites poderia ser uma diversão ainda mais radical com a disposição que sua atriz tem para arrancar gargalhadas da plateia. Conforme caminha para seu final previsível após a constante perseguição que vitima seus protagonistas (o casal é perseguido por assassinos profissionais), o filme perde um pouco do ritmo. No entanto, Melissa deixa claro que tem um lugar garantido para ela em comédias despretensiosas na telinha ou na telona.
Uma Ladra Sem Limites (Identity Thief/EUA-2013) de Seth Gordon com Melissa McCarthy, Jason Bateman e Robert Patrick. ☻☻
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