Redford e Jenkins: manchas do passado na militância.
Faz tempo que Robert Redford tinha aquele rosto perfeito que provocava suspiros na plateia, no entanto, aos 77 anos ele continua trabalhando com fôlego. Ele sabe que seu nome já está escrito na história do cinema e pode relaxar em frentes variadas. Se ele ainda tem prestígio suficiente para carregar um filme nas costas com Até o Fim (2013) ele também pode chamar atenção numa participação especial em Capitão América 2 ou por dirigir filmes como esse Sem Proteção. Em seus últimos filmes como cineasta, Redford mostra-se mais politizado, motivando discussões em torno do "discurso dominante" sobre histórias de prismas variados. Foi assim com o fiasco Leões e Cordeiros (2007) sobre as implicações da guerra no Afeganistão no congresso americano, com o elogiado Conspiração Americana (2010) sobre os meandros da morte de Abraham Lincoln e Sem Proteção prefere abordar um grupo de militantes que na década de 1970 tornou-se procurado pelo FBI por um assalto a banco que causou a morte de um homem. Os membros do grupo militante conhecido como Weather Underground desapareceram do mapa sendo incorporados à sociedade com identidades variadas. Quando Sharon Solarz (Susan Sarandon), uma pacata dona de casa, é presa, uma série de ligações a relaciona com o advogado Jim Grant (Robert Redford). As ligações entre os dois personagens mostram-se mais profundas conforme um jovem jornalista (Shia Labeouf) começa a investigar de onde os dois se conhecem, não demora muito para que descubram que Jim na verdade era o ativista Nick Sloan, que viveu no anonimato por 30 anos, casando-se e criando uma filha, que agora completa doze anos. Ciente da encrenca iminente, Nick corre em busca de seus ex-companheiros para encontrar provas que possam reconciliá-lo com o passado. Redford faz um filme bastante convencional, que torna cansativa a jornada em busca dos amigos do protagonista. É verdade que o time de veteranos é do mais respeitável, além de Redford e Sarandon o time de ativistas aposentados ainda conta com Richard Jenkins, Nick Nolte e Julie Christie - e os personagens ainda encontram Stanley Tucci, Brendan Gleeson e Chris Cooper pelo caminho - mas não há talento que dê conta de uma narrativa de encontros e surpresas a cada dez minutos. A partir de certo momento o filme parece se estender demais nesse formato e resta ao público saborear as discussões entre os personagens. Redford tem a sabedoria de não tomar partido no tema espinhoso que está abordando, mas consegue abordar a militância sob diversos focos para não tornar seus personagens em simples heróis ou vilões. Sabendo que a ideologia que os movia tornou-se mais complexa com o passar do tempo, o roteiro ainda explora o papel da imprensa na forma como lida com suas fontes e informações e, principalmente, o efeito do passado no presente dos personagens. Sharon Solarz diz que os filhos mudaram sua forma de ver o mundo, Nick tem em sua relação com a filha um ajuste de contas com o passado... talvez Redford encontre na trama do livro de Neil Gordon uma forma de expressar sua preocupação em deixar um legado, uma marca no mundo. Nesse ponto o filme funciona, o problema é a parte da investigação (no qual gasta mais tempo) já que o jornalista vivido por Shia Labeouf consegue estabelecer a lógica dos passos de Nick com uma facilidade impressionante - enquanto o FBI levou 30 anos para fazer o mesmo.
Sem Proteção (The Company You Keep/EUA-2012) de Robert Redford com Robert Redford, Shia Labeouf, Julie Christie, Susan Sarandon, Nick Nolte, Stanley Tucci, Terence Howard, Richard Jenkins, Chris Cooper e Anna Kendrick. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário