domingo, 29 de novembro de 2015

PL►Y: Encarcerado

Jerry e Ben: filho e pai presos um ao outro. 

Relações entre pai e filho já renderam filmes memoráveis, mas poucos possuem a tensão emocional de Encarcerado, afinal, o roteirista Johnatan Asser lava a roupa suja de um filho problemático com o seu pai ausente dentro da prisão - e o diretor David Mackenzie não tem medo de carregar nas tintas desse relacionamento que parece regrado por uma bomba relógio. Eric Love (Jack O'Connell) tem apenas dezenove anos, mas seu histórico repleto de agressividade e infrações é respeitável. Destinado a um presídio, sua fúria precisa ser domada para que as coisas não piorem para o seu lado (seja com os outros detentos ou com os policiais). Até esse ponto, o filme demonstra que não irá deixar de fora todos os elementos que já vimos em outros filmes do gênero, no entanto, a história ganha outras conotações quando Eric encontra no presídio o seu próprio pai, Neville (Ben Mendelsohn). Seu comportamento ainda mais estável com toda a carga de ressentimentos que existem entre os dois. É nessa dinâmica entre pai e filho que o filme consegue tornar-se original, mesmo quando os dois não estão juntos em cena, o diretor consegue manter o espectro de um sobre o outro a todo instante. Seja quando Eric participa de um grupo para domar sua agressividade (aconselhado pelo próprio pai), ou quando precisa lidar com a homossexualidade do pai dentro daquele universo repleto de testosterona. Os conflitos entre os dois crescem de tal forma que a tensão afeta os outros detentos e a própria administração da instituição, revelando ou escondendo interesses que ficarão mais evidentes ao final agressivamente catártico que se aproxima - o que não impede o diretor que criar belas cenas com seus personagens. Ben Mendelsohn alcança aqui seu melhor momento desde que ficou conhecido com, o também familiar, Reino Animal (2010) exalando uma paternidade conflituosa que parece mais atrapalhar do que ajudar seu rebento (que deseja tanto proteger naquele ambiente hostil). Por outro lado, o destaque fica mesmo com Jack O'Connell, aqui no seu primeiro passo rumo ao estrelato que chegou logo depois com Invencível (2014) de Angelina Jolie. O rapaz tem talento suficiente para dar conta de emoções complicadas sem perder uma certa ingenuidade que confere bastante humanidade ao seu personagem (sem parecer intimidado mesmo na já manjada cena de brigar peladão no chuveiro). Só pelos dois atores o filme já merece respeito. 

Encarcerado (Starred Up/Reino Unido-EUA/2013) de David Mackenzie com Jack O'Connell, Ben Mendelsohn, David Ajala, Rupert Friend e Frederick Schmidt. ☻☻☻☻

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