Depp e Carter: tortas recheadas de vingança.
Penso que é sempre difícil para um diretor realizar um grande filme e realizar outro de mesmo quilate em seguida. Poucos são capazes dessa façanha, a grande maioria começa a cometer obras menores até que encontre o caminho novamente. Posso citar o exemplo de Tim Burton. É público e notório que ele é um dos poucos diretores americanos que criaram um universo próprio para seus filmes, mas desde que lançou sua adaptação de Sweeney Todd o diretor tem decepcionado em seus lançamentos seguintes. Alguns vão dizer que as qualidades do macabro musical lhe deram combustível para um grande filme e que esperamos algo no mesmo patamar, outros dirão que Burton tornou-se preguiçoso nos últimos anos e outros dirão que Burton encontrava-se no auge de sua criatividade e talento quando fez o filme. Burton é um cineasta tão peculiar, que mesmo quando utiliza histórias de outras pessoas, é capaz de imprimir sua assinatura autoral e tornar completamente suas. Em Sweeney Todd (originalmente escrito por por Hugh Wheeler com música e letra do bamba Stephen Sondhein e montada a primeira vez em 1979 na Broadway) sua assinatura é evidente, especialmente na capacidade de surpreender e fazer um musical calcado em ódio, raiva e vingança. As letras são pura ironia e ganham, nas atuações de Johnny Depp (no que considero o seu melhor momento como ator até hoje) e Helena Bonham Carter, toda a alma que merecem para transformar o filme em uma obra relevante. Depp encarna o barbeiro Benjamin Barker, que volta à Londres em busca de vingança contra o homem que destruiu sua família, mas para isso, assume a identidade de Sweeney Todd. Para se vingar do Juiz Turpin (Alan Rickman) - que ainda mantem a filha de Barker prisioneira de seus desejos mais impuros - Todd, conta com a ajuda de Mrs Lovett (Carter), que vende em sua loja as piores tortas de Londres. Aos poucos os dois colocam em prática a vingança do barbeiro, que, fora de controle, irá vitimar várias várias pessoas. A estética sombria do filme é de encher os olhos, com seus figurinos extravagantes, cenários grandiosos e personagens que não conseguem esconder suas almas atormentadas em canções bizarras. Entre golpes de navalha, tortas de recheios suspeitos e jorros de sangue, Burton conta a história de um homem tão cego pelo ódio que nem perceberá quando o amor aparecer diante dos seus olhos. Cego pela vingança, Todd é valorizado pela atuação vigorosa de Depp, que não perde a dimensão humana de seu instinto mais sanguinário - e ele é acompanhado com grande competência pela Srª Burton, já que Helena Bonhan Carter apresenta aqui um dos seus melhores momentos na tela. O espetáculo é tão coerente que nada está fora do lugar, algo raríssimo para quem flerta com o exagero. Graças aos deuses do cinema, Tim Burton não é Baz Lurhman, e consegue criar um conjunto harmônico, visceral que trata a música não como um artifício, mas um instrumento narrativo tão forte quanto as imagens carregadas de dramaticidade que compõem o filme.
Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (Sweeney Todd - The Demon Barber of Fleet Street/ EUA-Reino Unido - 2007) de Tim Burton com Johnny Depp, Helena Bonhan Carter, Alan Rickman, Timothy Spall e Sacha Baron Coen. ☻☻☻☻☻
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