O'Connell: torturas em excesso comandadas por Angelina Jolie.
Faz tempo que Angelina Jolie anuncia que irá se afastar da carreira de atriz, tanto que atua cada vez menos. A esposa de Brad Pitt anda cada vez mais interessada em firmar-se como cineasta. Para isso já caminha para seu terceiro longa metragem atrás das câmeras. Sua estreia em Na Terra de Amor e Ódio (2011) não empolgou público, crítica ou distribuidores, mas deixou evidente suas ambições com doses consideráveis de pretensão. Ano passado ela lançou seu segundo filme como diretora, a produção foi cercada de nomes de prestígio (o roteiro era dos irmãos Coen e a produção assinada pelo marido) e enriquecida com inúmeros comentários que pareciam colocá-lo entre os favoritos ao Oscar. É verdade que o filme concorreu em três categorias (fotografia, mixagem de som e edição de som), mas nada que empolgasse os envolvidos. Jolie não fez um filme ruim, mas carente de estilo. Sua linguagem é clássica demais (embora apele por embaralhar os tempos da narrativa) e sua história descamba para o patriotismo que concorreu diretamente com as qualidades ambíguas de American Sniper de Clint Eastwood (que concorreu a seis estatuetas, incluindo melhor filme). Invencível conta a impressionante história de Louis Zamperini (o ótimo Jack O'Connell demonstrando ter fôlego para astro), um rapaz de origem italiana, que torna-se atleta e recordista olímpico para pouco depois servir na Segunda Guerra Mundial, passar 45 dias num bote em alto mar, sendo resgatado por japoneses e sofrer tipos variados de tortura. Não é difícil perceber porque a vida de Zamperini virou filme, tão pouco o interesse de Jolie contar uma história de superação tão comovente, no entanto, a diretora inexperiente opta por alguns recursos que soam estranhos. Não consigo entender, por exemplo, o motivo do filme gastar tanto tempo esmiuçando as violências sofridas pelo protagonista (dando-lhe mais de duas horas de duração que mereciam ser mais enxutas), das inúmeras cenas em que apanha pelas mãos do cabo Watanabe (o andrógino Takamasa Ishihara, mais conhecido como o astro pop japonês Miyavi), passando pela parte em que Louis é socado por cada um dos prisioneiros de guerra que convivem com ele, ressalta menos a força de seu personagem e mais um certo sadismo. Para além do olhar maniqueísta sobre uma maldade "quase natural dos japoneses", o filme em momento algum menciona questões sobre o ataque a Hiroshima e Nagasaki, que seria crucial para o fim da guerra e a libertação dos personagens. Deslizes como esse tornam o filme menos interessante do que deveria, perdendo a oportunidade de aprofundar ainda mais as loucuras da guerra e a crueldade humana. Resta ao espectador apreciar a boa atuação de O'Connell e seu algoz Miyavi, numa química estranha, quase sadomasoquista que parece atrair muito a diretora. Ao que parece, as ambições de Jolie como cineasta encontraram terreno em Hollywood, mas depois de um trabalho aparentemente exaustivo, a atriz resolveu simplificar em seu próximo filme, À Beira Mar não terá cenas de guerra ou torturas, mas se dedicará a captar a crise de um casal vivido por Jolie e Pitt.
Invencível (Unbroken/EUA-2014) de Angelina Jolie com Jack O'Connell, Domhnall Gleeson Miyavi, Jai Coutney, Garrett Hedlund e Finn Witrock. ☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário