quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Na Tela: Animais Noturnos

Jake e Amy: de amor e vingança.

Após assistir ao filme de estreia do estilista tom Ford (Single Man/2009) tive a certeza de que era questão de tempo para que se arriscasse novamente atrás das câmeras. Aclamado desde o lançamento no Festival de Veneza (de onde saiu com o prêmio de melhor ator para Colin Firth – que ainda foi indicado ao Oscar), Ford deixava ali seu estilo na sétima arte, demonstrando cuidado com o visual, assim com a sintonia entre os seus atores. Quando Ford disse que adaptaria para a tela o romance misterioso Tony and Susan de Austin Wright muita gente ficou surpresa. O maior motivo era que o livro lançado em 1993 era um primor de estranheza ao misturar três linhas narrativas que se misturam entre o passado, o presente o imaginário de forma cortante. Lançado com o nome instigante de Animais Noturnos, o filme comprova a mão do diretor para o cinema ao contar uma história de emoções complicadas com um rigor que poucos seriam capazes de imprimir (e a indicação ao Globo de Ouro de melhor diretor comprova isso). O filme conta a história de Susan Morrow (Amy Adams, ótima como sempre), uma dona de galeria que vive uma vida glamorosa, mas que é capaz de apenas contemplar o vazio que sua vida de tornou. Essa sensação oca é logo abalada quando ela recebe um manuscrito do novo romance escrito pelo seu ex-marido. O manuscrito é dedicado a ela. No entanto, o que Susan recebe não é uma declaração de amor convencional, trata-se de uma história sórdida onde uma família encontra um grupo de delinquentes na estrada e que colocará o marido protagonista numa espiral pesadelesca de desespero e morte. Se tudo beira a perfeição estética na vida de Susan (ainda que exista uma tensão sempre aprisionada nas roupas e cenários luxuosos que transita), as cenas baseadas no romance são o oposto: sujas, escuras e com tensão explícita faz com que o horror exploda a cada instante. Ajuda muito no andamento desta parte o elenco afiado, especialmente Jake Gyllenhaal (como o esposo), Isla Fisher (clone de Amy Adams como a esposa), Aaron Taylor Johnson (que surpreendeu ao levar o Globo de Ouro de ator coadjuvante pelo papel de líder dos delinquentes) e Michael Shannon (como o detetive que ajuda o esposo a resolver sua situação o ator conseguiu a única indicação do filme ao Oscar: ator coadjuvante), todos excelentes. Quando o filme se prende à realidade de Susan, Amy precisa expressar suas inquietações diante do que fez e do que lê com um gesto ou olhar, algo que a atriz consegue sem esforço (especialmente quando se vê entre Jake e Armie Hammer - o que vai deixar a mulherada com toneladas de inveja). No entanto, a maior graça do filme é a desenvoltura com que Ford mistura as três linhas narrativas sem aparente esforço (e com um brilhante trabalho de edição que sobrepõe as camadas que tem em mãos). Usando muito de David Lynch (sobretudo nos personagens estranhos, nos silêncios, detalhes em cena e até na trilha sonora) ele tem bom senso de criar um final simples e perturbador para sua heroína, que no fim das contas, encontra apenas a certeza do que não gostaria.


Shannon e Aaron: coadjuvantes de respeito. 

Animais Noturnos (Nocturnal Animals/EUA-2016) de Tom Ford com Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Aaron Taylor-Johnson, Michael Shannon, Isla Fisher, Armie Hammer, Karl Glusman,  Laura Linney, Andrea Riseborough e  Michael Sheen. ☻☻☻

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