Gosling e Emma: cinema sobre cinema.
Em 2015 o filme independente Whiplash/2014 fez história. Filmado em 19 dias com pouco mais de três milhões de dólares de orçamento o filme foi aclamado em festivais ao redor do mundo e foi indicado a cinco Oscars - levou de ator coadjuvante (para J.K. Simmons), montagem e edição de som, perdendo os de filme e roteiro original (este rendendo uma indicação para o diretor/roteirista estreante Damien Chazelle). Chazelle tinha recém completado 30 anos quando apareceu no Oscar e pela na trama sobre um promissor baterista de jazz e seu sádico professor se percebia que o rapaz tinha um futuro brilhante pela frente. Eis que em seu filme seguinte o diretor volta a evidenciar sua paixão pelo jazz, mas apresenta mais ainda o seu amor pelo cinema. Retire toda a agressividade vista em Whiplash e coloque no centro da história um pianista de jazz (lógico) que ainda procura o seu lugar no mundo e uma atriz que foi tentar a sorte em Los Angeles encontrando apenas o emprego de garçonete e sucessivas audições fracassadas. Como o título indica La La Land é sobre Los Angeles e os sonhos que movimenta todos os dias entre os engarrafamentos e a atmosfera cinematográfica. O grande desafio de Chazelle foi mais do que contar a história do casal protagonista, mas conseguir transmitir essa atmosfera de sonho que a terra das estrelas emula no imaginário das pessoas. Para isso ele se arrisca a criar um musical - um gênero que ainda patina no gosto mundial - sobre dois personagens que se apaixonam em meio ao anonimato da terra do cinema. Ryan Gosling e Emma Stone já provaram ter química juntos em dois filmes anteriores (o bom Amor à Toda Prova/2011 e o nem tanto Caça aos Gangsteres/2013) e aqui precisam da mesma sintonia para cantar, dançar e convencer de que são duas pessoas absolutamente comuns que sapateiam no primeiro encontro. Stone transborda carisma na pele de Mia, convence com a voz meiga nos momentos musicais e mesmo quando dança não chega a decepcionar, mas seus melhores momentos são mesmo quando sente que seu sonho de se tornar atriz se torna cada vez mais distante. Seu empenho lhe valeu o prêmio de melhor atriz em Veneza, o SAG de melhor atriz, Globo de Ouro de atriz em comédia/musical e muitos outros prêmios (além de sua primeira indicação ao Oscar de atriz). Já Ryan Gosling já se arriscou como cantor antes (seja na emocional palhinha de Namorados Para Sempre/2011 ou no álbum de sua banda Dead Man's Bones), já foi dançarino quando criança e faltava apenas convencer como pianista (sorte que não precisou tocar até os dedos sangrarem como ocorreu com Miles Teller em Whiplash), porém, embora seja um ótimo ator está ficando cada vez mais mecânico em sua tentativa de ser cada vez mais econômico em cena. Para além dos atores, o mais legal de La La Land não é o colorido, a edição esperta ou a bela trilha sonora, mas a forma como Chazelle ironiza em vários momentos como a música se faz presente em nosso cotidiano e mesmo assim ainda temos resistência aos musicais, da música nos carros, passando pelos momentos dançantes do casal, o diretor sabe como utilizar o gênero para criar um clima entre a fantasia e a realidade, assim como sabe maneirar quando os conflitos entre o casal começa a aparecer. Assim, até a cena final onde a vida parece ser um musical somente da lembrança do que nunca aconteceu, Chazelle cria um filme cheio de referências aos clássicos do gênero, ao mesmo tempo que ironiza nossa própria percepção sobre os musicais. Recordista na indicação ao Oscar (14 no total) incluindo filme, diretor, ator, atriz, roteiro, canção original e fotografia o filme estreou sob grande expectativa aqui no Brasil, mas não se assuste, Chazelle faz um filme despretensioso que pode fazer você suspirar, odiar ou apenas se divertir. Eu fui me divertir no cinema e não tenho do que reclamar. Se merece o Oscar? Bem, deixa isso para a Academia resolver e divirta-se!
La La Land: Cantando Estações (La La Land / EUA - 2016) de Damien Chazelle com Emma Stone, Ryan Gosling, Rosemry Dewitt, John Legend e J.K. Simmons. ☻☻☻☻
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