McDougall e seu amigo gigante: atuação exemplar em tocante fantasia.
O cineasta catalão Juan Antonio Bayona caiu no radar de Hollywood quando a Espanha escolheu seu estupendo filme de estreia para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro. Se tratava de O Orfanato/2007, filme de fantasmas que se tornava ainda mais assustador pelo drama de sua protagonista revelado ao final. A indicação ao Oscar não veio, mas Bayona conseguiu crédito suficiente para filmar com dinheiro americano o seu filme seguinte, O Impossível (2012) que retratava a história de uma família que tentava se reencontrar diante da devastação física e emocional provocada por um desastre natural. Embora Naomi Watts tenha recebido uma indicação ao Oscar de atriz naquele ano, o filme também trazia o novato Tom Holland (hoje mais conhecido como o novo Homem-Aranha), ainda menino, em uma atuação espetacular. Diante disso, não deixa de ser interessante que com todo espetáculo visual que é seu novo filme, Sete Minutos para Meia-Noite, a atuação do pequeno Lewis MacDougall seja o que há de mais impressionante no filme. O menino demonstra um talento impressionante ao criar um personagem complicado que transparece carregar todo o peso do mundo nas costas. Ele vive Conor O'Malley, um garoto introspectivo que é perseguido pelos colegas na escola e que precisa lidar com a morte iminente da mãe (Felicity Jones). Não bastasse isso o pai (Tobby Kebbell) está sempre distante e tudo indica que após o inevitável ele terá que morar com a avó (Sigourney Weaver), que está bem longe de ser uma senhora simpática. A realidade de Conor é tão desprovida de bons acontecimentos que ele faz amizade com uma árvore milenar que pode ser observada da janela do seu quarto - mas que ao passar sete minutos da meia-noite se revela um monstro gigantesco. É com a árvore (voz de Liam Neeson) e suas histórias que Conor irá aprender a lidar com seus medos e perceber que o mundo, ainda que doloroso, pode ser bastante inspirador quando sobrevivemos aos obstáculos que aparecem pelo caminho. No entanto, ao final, a árvore quer que Conor conte a sua própria história - resta saber se o menino terá coragem para isso. O enredo jamais funcionaria se J.A. Bayona não tivesse plena consciência de onde quer chegar com esta fantasia sombria sobre o crescimento de seu protagonista e, obviamente, que ajuda muito contar com um ator de verdade no centro de sua narrativa. MacDougall demonstra uma maturidade cênica impressionante, seus olhos amargurados e seu corpo franzino conseguem expressar toda a fragilidade, tristeza e fúria que seu personagem carrega enquanto lida com o desfecho da pessoa que ele mais ama no mundo. Bayona recusa o melodrama por todo o filme (basta ver como são tocantes as cenas de Felicity Jones, sempre contida em seu misto de ternura e sofrimento) e faz um trabalho excepcional com o roteiro que tem em mãos (assinado pelo próprio Patrick Ness, escritor do livro que inspirou o filme). Inesperadamente ignorado no Oscar, o filme foi considerado um dos melhores lançamentos de 2016 e alcança um resultado exemplar na forma como lida com temas difíceis como morte, violência e até um pouco de loucura na estrutura de uma fantasia infanto-juvenil.
Sete Minutos Depois da Meia-Noite (A Monster Calls/ EUA - Espanha / 2016) de J.A.Bayona com Lewis MacDougall, Liam Neeson, Felicity Jones, Sigourney Weaver, James Melville, Ben Moor, Tobby Kebbell e Dominic Boyle. ☻☻☻☻☻
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