Como planejar uma Orgia: quebrando tabus (ou quase).
O conservadorismo americano é sempre alvo de comédias que pretendem ser um pouco mais apimentadas, mas não basta apenas provocar, tem que haver cuidado para não cair na caricatura e deixar o programa alguns graus abaixo do esperado em sua previsibilidade. Como Planejar uma Orgia numa Cidade Pequena assume o risco de ser uma comédia sexual desencanada até certo ponto, porque lá pelo meio do caminho começa a tropeçar no que pretendia criticar. O filme começa com a jovem Cassie Cranston (quando mais velha será vivida por Jewel State) que tem sua (quase) primeira experiência sexual frustrada numa festinha na casa de uma amiga. Não bastasse a confusão ela tem que correr pela cidade usando apenas peças íntimas (pesadelo para qualquer adolescente) e, diante da reação da mãe, tem uma atitude ainda mais inusitada que a tornou famosa na cidade. O tempo passou e Cassie se tornou uma escritora famosa por suas dicas sobre vida sexual, tornando-se uma verdadeira celebridade que retorna à cidade natal, reencontrando desafetos, o ex-namorado (Ennis Esner) que acabou casando com a amiga nojentinha da tal festa (Lauren Lee Smith). A verdade é que além de celebridade, Cassie transformou sua cidade natal habitantes num verdadeiro antro conservador, antiquado e bastante desinteressante de se viver - especialmente no que se refere à vida sexual de pessoas cheias de complexos, recalques e preconceitos. Eis que num encontro com seus conhecidos, Cassie é desafiada a organizar uma orgia com um grupo de moradores e ela aceita o desafio meio a contragosto. A intenção seria provar a ela que são todos desencanados quanto ao que se refere ao sexo. Não é bem assim. Além de Cassie possuir um segredo que pode colocar tudo a perder (e que se torna um verdadeiro estorvo para o filme), seus sentimentos pelo namorado de adolescência complicam um pouco a situação - assim como um plano da esposa dele para engravidar no meio da orgia. Ainda que a ideia seja cheia de possibilidades ao se propor a explorar as inseguranças dos personagens com relação à sexualidade, o diretor Jeremy LaLonde não tem pulso suficiente para explorar devidamente uma dezena de personagens e seus desdobramentos. A própria Cassie nunca parece interessante o suficiente para ser digna de admiração - e isso prejudica muito o filme, especialmente porque, assim como a maioria das atrizes do filme, ela parece atuar repetindo tiques e cabeça trêmula ao longo da projeção. Curiosamente os atores se saem melhor, especialmente o bom Mark O'Brien (da série Halt and Catch Fire) que vive um rapaz ansioso para participar da orgia e que tem um interesse estranho pelo sócio desencanado (o ótimo James McGowan, o mais velho e mais desinibido do elenco). Jonas Chernick também está engraçado na pele do... "sensível" Chester, que tem uma pequena disfunção sexual, além de Kristian Brunn (o gordinho simpático da série Orphan Black) na pele de um nerd que não parece estar interessado em nada do que está para acontecer. Como Planejar uma Orgia numa Cidade Pequena pode não cumprir tudo o que promete, mas tem lá sua graça ao fazer piada com o planejamento de algo que deveria ser bem mais espontâneo - mas se o filme conseguisse desenvolver melhor os personagens (esquecendo umas bobagens bastante conservadoras que inventa pelo caminho) teria sido muito mais prazeroso de assistir.
Como Planejar uma Orgia numa Cidade Pequena (How to Plan an orgy in a Small Town / EUA -2015) de Jeremy Lalonde com Jewel State, Ennis Esner, Lauren Lee Smith, Mark O'Brien, James McGowan e Kristian Brunn. ☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário