Sunny Pawar: a verdadeira estrela de Lion.
Ao
assistir Lion o que mais me
surpreendeu foi a quantidade de crianças perdidas que aparecem durante o filme. Talvez o grande público não perceba este detalhe ao assistir a história do menino
Saroo, mas a informação que aparece ao final ressalta o dado alarmante de que
80 mil crianças se perdem por ano na Índia. Saroo foi apenas uma delas e diante
de todas as atrocidades que sabemos que pode acontecer com uma criança desaparecida,
ele teve a sorte de ser adotado por um casal australiano que o criou com toda
atenção e o apoiou quando o menino, já crescido, resolveu procurar sua família
biológica. Baseado numa história real, o filme do inglês Garth Davis tem o
mérito de entregar exatamente o que o público espera de uma história dessas,
sendo espirituoso, comovente e com um final feliz que todo mundo espera
ansiosamente (especialmente os que já sabem como a história). O pequeno Saroo (vivido
por um irresistível Sunny Pawar) se perde do irmão mais velho numa estação de
trem em Calcutá e por não saber informar de onde veio ou o nome da mãe (resista
quando ele responde que o nome da mãe dele é “Mamãe”) está realmente em mãos
lençóis. Nesta parte o diretor consegue fazer a angústia do menino transbordar
da tela. O filme se torna tenso, triste e doloroso de assistir, por isso mesmo
gera um verdadeiro alívio quando aparece o casal Brierley em sua vida, John
(David Wenham que infelizmente não recebe muito destaque) e Mia (Nicole Kidman, indicada ao Oscar de coadjuvante) surgem
como uma salvação para o menino - desde o primeiro olhar luminoso de Mia (cortesia
de uma inspirada Nicole) sabemos que ele encontrou uma família que o aceita de
coração aberto. Some o momento em que outro filho chega na casa e você
perceberá que a primeira parte do filme termina muito bem-sucedida em suas
intenções. Quando Saroo cresce é Dev Patel (indicado ao prêmio de ator
coadjuvante, categoria em que foi premiado no último BAFTA) que assume o
personagem e demonstra maturidade por transparecer que mesmo diante de todo o
conforto e expectativas de vida, a dor de não saber o que houve com sua família
biológica ecoa dentro dele – e não demora para que isso afete sua vida social
(incluindo o namoro com Rooney Mara) e alguns conflitos familiares apareçam
pelo caminho. Existe um buraco na identidade de Saroo (e que pode tragar sua personalidade
como um vácuo). Diretor de primeira viagem em longa-metragem, Garth Davis (que
anteriormente tem como maior mérito ter dirigido quatro episódios da série Top of the Lake) perde fôlego na segunda
parte, sorte que o elenco consegue manter o interesse no drama familiar que se
instaura. Embora tenha deslizes tudo é perdoado com o último ato (tendo como
bônus a cena que mostra os personagens reais que inspiraram o filme) o que
demonstra que Lion é um filme bastante convencional, mas sabe exatamente onde
quer chegar com a carga emocional que tem em mãos. Comprovando que a produção
funciona o filme foi lembrado no Oscar nas categorias de Melhor Filme,
Fotografia, Roteiro Adaptado e Trilha
Sonora.
Lion: Uma Jornada para Casa (Austrália / EUA / Reino Unido - 2016) de Garth Davis com Sunny Pawar, Dev Patel, Nicole Kidman, David Wenham e Rooney Mara. ☻☻☻
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