segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Na Tela: Machester à Beira Mar


Casey e Lucas: tragédias familiares.

Quem diria que diante de todo o crescimento do Netflix, a Amazon seria indicada ao Oscar primeiro do que a concorrente. Vale lembrar que a Netflix estava toda prosa com o lançamento de seu primeiro longa metragem em 2015, Beasts of no Nation - que apareceu em várias premiações, mas ficou de fora do maior prêmio do cinema americano. O problema estava basicamente na estratégia de lançamento, já que o serviço on demand lançou o filme nos cinemas e disponibilizou pela internet ao mesmo tempo (o que limitou sua distribuição e gerou muitas polêmicas por conta disso), nos lançamentos que se seguiram, a gigante on demand resolveu ter pretensões menores. A Amazon entendeu o recado da Academia e mesmo tendo comprado os direitos de Manchester à Beira Mar, tão logo ele foi acolhido no Festival de Sundance, o sublimou em Festivais e nas telas fazendo uma campanha mais convencional para os que querem uma vaga no Oscar. Deu certo! O novo filme de Kenneth Lonergan concorre a seis estatuetas (filme, diretor, ator/Casey Affleck, atriz coadjuvante/Michelle Williams, ator coadjuvante/Lucas Hedges e roteiro original) e tem fortes chances de levar uma para casa (era o favorito na categoria de melhor ator, pelo menos até uma polêmica sobre assédio sexual envolver Casey). O filme gira em torno de Lee Chandler (Casey Affleck), quando o vemos na primeira cena no barco com o sobrinho e o irmão, a vida parece um mar de possibilidades e tudo transpira otimismo, no entanto, quando vemos o personagem novamente ele parece outra pessoa trabalhando como zelador de um condomínio e sua amargura é palpável. Aos poucos veremos como a vida de Lee saiu dos eixos, principalmente quando sofre outro golpe: a morte do irmão (Kyle Chandler) e recebe a responsabilidade de ter que cuidar do sobrinho agora adolescente (um ótimo Lucas Hedges). Quem conhece os trabalhos anteriores de Lonergan (sobretudo o bom Conte Comigo/2000 e o irregular Margaret/2011) sabe que e ele curte uma narrativa lenta, cheia de detalhes cotidianos de seus personagens (que geralmente revela uma fina ironia), mas aqui o que faz a diferença é o uso de flashbacks para encorpar a narrativa. Cheio de idas e vindas, são eles que nos fazem compreender todo o peso que Lee carrega sobre os ombros enquanto o sobrinho tenta estreitar os laços com ele. É verdade que Lonergan nunca esteve tão bem na condução de seus atores, além do tom intimista de seu protagonista e do jeito descolado do sobrinho, o filme ainda conta com outra ótima atuação de Michelle Williams. Na pele da esposa de Lee a atriz tem poucos minutos para construir uma personagem de carne e osso e cumpre a sua tarefa com maestria rara, se confirmando mais uma vez como uma das melhores de sua geração. Manchester à Beira Mar é o filme que Lonergan  deixa mais evidente a sua verve literária, basta reparar a forma como ele conduz o destino de seus personagens diante da câmera, um trabalho tão cheio de detalhes (auxiliado por excepcional trabalho de edição) que pode passar desapercebido do espectador mais afoito. Mesmo que não leve o Oscar, Manchester à Beira Mar merece ser visto pelo interessante painel humano que desenha.  

Manchester à Beira Mar (Manchester By the Sea/EUA-2016) de Kenneth Lonergan com Casey Affleck, Lucas Hedges, Michelle Williams, Kyle Chandler, Gretchen Moll e Tate Donovan. 

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