François: professor, escritor, ator e seus alunos.
Amanhã serão divulgados os nomes dos filmes premiados do Festival de Cannes-2017 e aqui no blog eu gostaria de ter feito um ciclo com filmes ganhadores da cobiçada Palma de Ouro, mas não foi possível - ano que vem eu prometo fazer isso. Para celebrar o Festival resolvi lembrar de uma produção que se tornou um dos meus ganhadores favoritos da Palme D'Or: Entre os Muros da Escola de Laurent Cantet. Quando eu escrevia no meu blog anterior, o longa foi o meu favorito de 2008 e, por isso, vale a pena destacá-lo aqui. Entre les Murs foi lançado justamente quando eu estava no meio do meu mestrado e nem vou me aprofundar nos inúmeros debates (muitas vezes bem chatinhos) que o filme gerou, afinal, meu olhar sobre o filme de Cantet vai mais fundo do que o discurso que preferem encontrar ali um "filme educativo" e o criticam por não aparecer muito da vida dos alunos fora da escola (para esses eu apenas recomento que leiam o título). Considero que poucos filmes conseguiram captar tão bem os dilemas da escola perante os problemas sociais que a perpassam, afinal, não é por acaso que o centro da história é um professor de francês que precisa lecionar para um grupo de alunos de origem bastante diversificada e, portanto, com leituras de (um mesmo) mundo bastante distintas. Cantet não está interessado em criar um filme edificante sobre uma escola cheia de delinquentes e um professor-que-irá-ensinar-lições-que-servirão-para-toda-a-vida de seus alunos (algo que Hollywood estabeleceu como uma espécie de padrão para "filme de escola"). Durante todo o filme o que se vê não é o retrato estereotipado de um docente e sua turma, mas a interação de um grupo de pessoas que procuram conviver uns com os outros num ambiente educacional e suas regras. Para os espectadores professores as cenas como as do Conselho de Classe ou da provável expulsão - que poderá mudar para sempre a vida de um aluno - devem parecer bastante próximas de nossa realidade (assim como a descoberta de que uma aluna que você nem imagina gosta de ler Platão ou a outra, que nunca teve problemas com notas, declarar que não aprendeu nada de importante durante o ano inteiro). Sempre que revejo o filme ecoam várias cenas, seja dos alunos perguntando sobre a sexualidade do professor ou a cena do futebol que poderia ter acontecido logo no início do ano letivo - e aliviado todo aquele clima de guerra entre professores e alunos desde o início do ano letivo. Afinal, todos são pessoas em seus papéis sociais aprendendo a viver em sociedade e, por vezes, fazendo o outro notar que guardamos todo um universo dentro de si. Nesse encontro de universos (e seus conflitos e alegrias), Cantet utiliza uma linguagem quase documental que transpira realismo, especialmente por conta de lidar com ótimos atores amadores - que parecem ser, de fato, os personagens, no caso do protagonista (François Bégaudeau) é isso mesmo: ele é o professor que escreveu o livro (sobre suas experiências) que deu origem ao filme. Um dos maiores méritos de Entre os Muros da Escola é justamente borrar a linha que divide a ficção da realidade, colabora ainda mais para isso o fato de que as filmagens aconteceram dentro de uma escola no subúrbio de Paris por sete semanas. Ao final, você talvez perceba que vários pontos abordados no filme acontecem em todo lugar.
Entre os Muros da Escola (Entre Les Murs / França -2008) de Laurent Cantet com François Bégaudeau, Agame Malembo-Emene, Angélica Sancio, Arthur Fogel, Boubacar Toure e Damien Gomes. ☻☻☻☻☻
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