sábado, 13 de maio de 2017

Na Tela: Melhores Amigos

Michael e Theo: amizade em risco. 

Desde os anos 1990 o diretor Ira Sachs chama atenção no circuito indie. Se ele quase atingiu o mainstream com a comédia de humor negro Vida de Casado/2007 seus dois filmes seguintes marcaram seu retorno para seu tom bastante particular e, não por acaso, envolvendo temáticas gays (o diretor saiu do armário faz tempo). Visto por esse prisma, Deixe a Luz Acesa/2012 e O Amor é Estanho/2014 parecem dois lados de uma mesma moeda, se no primeiro um jovem artista tenta não sucumbir ao vício do namorado, no segundo um casal maduro tenta manter os laços diante de uma separação involuntária. No primeiro Sachs é explícito, no segundo ele é todo contido e deixa a trama das entrelinhas ser ainda mais poderosa do que o tema principal. De certa forma, Melhores Amigos retoma uma das entrelinhas deste último, já que conta a história de dois amigos adolescentes envolto em um dilema não criado por eles. Não por acaso, os três filmes tem o roteiro feito em parceira de Zachs com o brasileiro Mauricio Zacharias (do espetacular Madame Satã/2002) - e quem assistir aos três irá perceber os méritos desta parceria. Assim, conhecemos Brian Jardine (Greg Kinnear), um ator que ainda se recupera da morte do pai. Como a carreira demora para decolar, ele se muda para o prédio que recebeu de herança -  ao lado da esposa (Jennifer Ehle) e do filho, Jake (Theo Taplitz). Os Jardine passam a viver no apartamento localizado sobre a loja de Leonor (a premiada atriz chilena Paulina García de Gloria/2013, que há tempos a utiliza como espaço de costura e venda de vestidos quase sempre feitos por ela. Leonor também tem um filho adolescente, Tony (Michael Barbieri) que rapidamente desenvolve amizade com Jake. Os dois passam a andar juntos para todo canto, na escola, no bairro, no curso de teatro que Tony convence o tímido Jake a participar, na casa de um de do outro... No entanto, entre a amizade dos meninos surge um obstáculo. Insatisfeito com o valor pago por Leonor, ao fim do contrato, Brian cobra um valor maior, o qual a inquilina não pode pagar, tem início então alguns conflitos que o filme lida sem muito estardalhaço. O roteiro prefere o caminho da sutileza, em leves alfinetadas e conflitos que parecem sempre abafados O filme de Sachs caminha assim no choque entre dois mundos: o dos meninos que ainda possuem a vida toda pela frente e os adultos que criam problemas diante das necessidades que produzem. Como em O Amor é Estranho, o diretor deixa bem claro que sua história é um recorte na vida dos personagens, um retrato de um período específico na vida daqueles que aparecem diante da câmera. Por isso mesmo, são nas entrelinhas que estão os motivos para Leonor continuar na loja por tanto tempo e Brian sempre parecer hesitante demais para incorporar o senhorio desalmado. Embora muita gente reclame do ritmo do filme e do final um tanto aberto, Sachs permanece fiel ao seu estilo realista, entre os tropeços e esperanças de seus personagens. Ainda assim, Melhores Amigos é o tipo de filme que você gostaria de ver uma continuação uns dez anos depois e descobrir o que o futuro reservou para Jake e Tony - e eu não ficaria surpreso se essa for a ideia inicial do diretor (que gosta de olhar fora da caixa). 

Melhores Amigos (Little Men / EUA - Brasil - Grécia / 2016) de Ira Sachs com Theo Taplitz, Michael Barbieri, Greg Kinnear, Paulina García e Jennifer Ehle. ☻☻☻

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