Juliette e Rinku: abrigo nas relações.
Ainda que não seja muito conhecida, a diretora catalã Isabel Coixet sempre me chama atenção. Embora meu filme favorito assinado por ela seja Fatal (2008) com Penelope Cruz e Ben Kingsley, me arrisco a dizer que sua filmografia sempre traz propostas interessantes. Este Ninguém Deseja a Noite foi exibido em alguns festivais e teve muitos problemas com a distribuição, embora tenha a estrela Juliette Binoche no alto dos créditos. O filme é baseado na história real de Josephine Peary (Binoche) que em 1808 partiu para a gélida Groenlândia em busca de seu esposo, um explorador que sonhava chegar ao Pólo Norte. Se a tarefa do esposo não é das mais fáceis, Josephine parece não se dar conta de que ela terá que vencer os mesmos desafios do esposo sem ter a experiência (e resistência) do cônjuge. O roteiro não evita apresentar Josephine como uma mulher frívola, fútil, acostumada com a boa vida de madame em Nova York e que não percebe na fria (perdão pelo trocadilho) em que está se metendo. Logo nas primeiras cenas, ela mata um urso polar e comemora como se tudo fizesse parte de um passeio exótico para satisfazer suas vontades, mas aos poucos o espectador percebe que seu desejo é uma verdadeira sandice. Obcecada por encontrar o marido (e o roteiro nunca deixa muito claro motivação para isso), ela termina vendo sua pequena expedição encontrar cada vez mais o fracasso e se antes as suas roupas elegantes davam um contraste curioso com a ambientação gélida, aos poucos só lhe restará o desmazelo. Enquanto os outros personagens ficam pelo caminho, cruza o caminho da protagonista a esquimó Allaka (Rinku Kikuchi - que já trabalhou com a diretora anteriormente em Mapa dos Sons de Tóquio/2009), que a incomoda cada vez mais por sempre estar sorrindo em sua miséria e, principalmente, ao revelar algumas novidades sobre o esposo que tanto espera reencontrar. A relação que se estabelece entre as duas mulheres é o ponto alto do filme, e que transformará Josephine às duras penas diante da chegada do inverno rígido, que se apresenta como uma longa noite escura, implacável e que faz a sobrevivência cada vez mais distante. Ainda que Coixet invista em belíssimas composições visuais, elas parecem estar ali para sempre contrastar com os horrores que a protagonista encontra pelo caminho, revelando que a diretora faz aqui seu filme mais ambicioso, mas também o mais difícil, lento e estranho (repare na escuridão utilizada em uma das cenas mais aguardadas do filme), mas que merece uma olhada, nem que seja para ver Josephine se tornar uma pessoa melhor na medida em que se desintegra durante a história.
Ninguém Deseja a Noite (Nadie Quiera la Noche / Espanha - França - Bulgária / 2016) de Isabel Coixet com Juliette Binoche, Rinku Kikuchi e Gabriel Byrne. ☻☻☻
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