O triângulo : nada é o que parece.
O sul coreano Park Chan-Wook ficou famoso mundialmente por conta do sucesso de Oldboy (2003), o episódio do meio de sua trilogia da vingança. Aclamado em Cannes e com sucesso ao redor do mundo, Chan-Wook fez um filme de vingança impressionar pela energia e estilo. Definitivamente não é qualquer diretor que alcançaria o mesmo - e se paira dúvida, basta ver a horrorosa refilmagem americana feita por Spike Lee dez anos depois. Ironicamente, foi em 2013 que o diretor filmou sua primeira obra em Hollywood (Segredos de Sangue com Nicole Kidman) mantendo a violência estilizada e os personagens de sentimentos tão ocultos quanto latentes. O diretor ficou três anos sem lançar um longa de ficção e entregou A Criada no Festival de Cannes no ano passado. O filme fez sucesso perante a crítica, especialmente por ter se revelado uma versão habilidosa do romance Fingersmith de Sarah Waters (que virou minissérie da BBC em 2005). O filme transporta a trama dos arredores de Londres para a Coréia dos anos 1930. No período da ocupação japonesa no território coreano conhecemos Sook-Hee (Tae-ri Kim), uma jovem que trabalha no estranho comércio de bebês para famílias japonesas. Esses dias de trabalho inglório ficam para trás quando ela é escolhida para cuidar da sobrinha do Sr. Kouzuki (Jin-Woong Jo), um japonês com muito dinheiro na cidade (e a residência de Kouzuki é um verdadeiro achado entre as referência pelas quais o filme transita). A sobrinha de Kouzuki se chama Hideko (Min-Hee Kim) e vive isolada esperando o dia em que se casará com o tio - e transferir para ele toda a fortuna que herdou dos pais. Traumatizada pela morte da tia (que se enforcou pendurada numa cerejeira que assombra a janela de seu quarto), a moça mostra-se melancólica perante as inseguranças de seu futuro. Não demora para que o laço entre Hideko e Sook-Hee se intensifique cada vez mais, porém, a presença do Conde Fujiwara (Jung-Woo Ha) sempre nos lembra que nem tudo é o que parece. Park Chan-Wook divide sua história em três partes e, na transição para cada uma delas, mantem a respiração da plateia suspensa depois de fazê-lo pensar que sabia exatamente o que iria acontecer. Ledo engano. Se no início o filme parece que será um romance de época convencional (com bela fotografia, figurinos irretocáveis, direção de arte impressionante...) o diretor revela, aos poucos, o que o universo em torno de Sr. Kouzuki tem de mais sórdido - e contrasta isso com cenas tórridas entre suas atrizes. Se o diretor consegue arrancar o melhor do seu elenco, vale ressaltar os desempenhos de Tae-ri Kim que é um verdadeiro achado de talento e carisma, além de Jung-Woo Ha na pele do conde sedutor - que ajuda a formar um triângulo amoroso imprevisível. Em alguns momentos, Chan-Wook sucumbe a alguns exageros (quase cômicos), mas o espetáculo narrativo-visual que constrói é tão abrasivo que você nem se importa com os deslizes deste filme cheio de surpresas e erotismo.
A Criada (Ah-ga-ssi/Coréia do Sul - 2016) de Park Chan-Wook com Tae-ri Kim, Jung-Woo Ha, Min-Hee Kim e Jin-Woong Jo ☻☻☻☻
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