A Raposa e o Príncipe: o clássico dentro de uma trama diferente.
O clássico de Antoine de Saint-Exupéry já tem a sua versão clássica que vem à mente de qualquer cinéfilo desde 1974. Protagonizado pelo prodígio Steven Warner (que depois fez mais um filme e deixou a carreira de ator) o longa assinado por Stanley Donen é todo fiel ao livro de Exupéry e contava com participações mais do que especiais de Gene Wilder (a Raposa) e Bob Fosse (a Cobra), o que deixava aquela fantasia com gosto ainda mais especial para várias gerações. Eis que o diretor de Kung Fu Panda (2008) resolveu fazer uma versão mais moderna do livro. A empreitada é bastante ambiciosa e ousa até mesmo contar a clássica história do menino solitário do Asteróide B-612 como se fosse apenas uma trama dentro do roteiro, afinal, o filme gasta mais tempo com o que aconteceu com aqueles personagens depois que o livro termina do que refazendo o filme de 1974 em forma de animação. O verdadeiro protagonista da história é uma menina que é extremamente cobrada pela mãe para que consiga entrar numa renomada escola. A mãe está sempre preocupada com o sucesso acadêmico da filha, mas sempre ocupada com o trabalho, prepara um roteiro de atividades as quais ela deverá seguir fielmente para alcançar o sonho de frequentar a escola dos seus sonhos. Solitária e melancólica, não demora para a menina fazer amizade com o vizinho que se apresenta como um aviador aposentado. A amizade entre os dois se fortalece conforme ele conta a para ela a história do garotinho misterioso que conheceu no deserto.
Os amigos: voltando a ser criança.
Assim como no livro é o aviador que narra a história do Pequeno Príncipe e, se no livro é ele que redescobre a criança que nunca deveria ter deixado para trás, na nova versão é a menina que precisa retomar a graça de ser criança novamente. Claramente existe um discurso voltado para o amadurecimento cada vez mais precoce do século XXI, onde a fantasia cede espaço cada vez mais cedo para os compromissos da vida adulta. Se você estranhar a forma encontrada para recontar a história, você ficará ainda mais surpreso quando o roteiro mostrar o que aconteceu com o príncipe depois que ele cresce. O filme tem o problema de investir em algumas frases gastas e se confundir um pouco nas próprias intenções, demorando para encontrar um equilíbrio entre o realismo que pretende alcançar e a fantasia. O terceiro ato retira um pouco da magia do livro, investe num tom mais sombrio, mas pode se dizer que vale a tentativa de tentar fazer um filme diferente para um livro tão conhecido. Porém, o melhor de tudo é como o diretor Mark Osborne, ao lado da equipe, utiliza formas diferentes de animação para realizar o filme. A história da menina aparece feita por computação gráfica, existe uma pequena parte que parece feita à mão e a mais bela e inventiva de todas é a que se refere ao livro de Exupéry - onde tudo parece feito de papel, dando um visual diferente, sensível e extremamente poético para o filme. A nova versão do Pequeno Príncipe pode decepcionar os fãs mais tradicionais da história e pode receber críticas por não confiar na trama original e precisar dar ritmo de aventura à história para conquistar novos fãs, mas se motivar que novos leitores se interessem pelo livro, qualquer deslize será perdoado.
O Pequeno Príncipe (The Little Prince / França - 2015) de Mark Osborne com vozes de Jeff Bridges, Mackenzie Foy, Rachel McAdams, Marion Cotillard, Paul Rudd e James Franco. ☻☻☻
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