Os Burns: preconceitos aqui e ali.
Depois do controverso "Oscar So White" do ano passado, vários filmes envolvendo temáticas raciais foram produzidos nos Estados Unidos. Alguns se tornaram sucesso de bilheteria (Estrelas Além do Tempo/2016), outros ganharam prêmios importantes (Moonlight/2016, Um Limite Entre Nós/2016, O Nascimento de Uma Nação/2016), alguns fracassaram nas bilheterias (Um Estado de Liberdade/2016 , Loving/2016) e outros queriam apenas contar uma história. O indie Little Boxes é despretensioso demais para ser lembrado no Oscar ou fazer bilheterias milionárias, mas toca em algumas questões de forma que parece ser "quase sem querer". A trama gira em torno de uma família formada por uma professora universitária de artes, Gina (Melanie Linskey), um escritor Mack Burns (Nelsan Ellis) e o filho adolescente Clark (Armani Jackson). Todos se mudam de Nova York para uma pequena cidade de Washington. Deixando a diversidade de Big Apple para trás, o casal se vê numa vizinhança majoritariamente branca que os fará lembrar o tempo todo de que formam uma família inter-racial. O roteiro de Annie Howell opta por avançar a trama a partir de pequenos conflitos que surgem na vida do trio. Primeiramente com as caixas da mudança que demoram para chegar (as "pequenas caixas" do título), depois com os olhares surpresos quando alguém percebe que o esposo de Gina é negro. A seguir temos os comentários aparentemente "inofensivos" e o olhar curioso das nova amigas de Clark que consideram interessante ter um amigo negro para exibir para os outros. Ainda que os conflitos estejam todos ali e apareçam encadeados um ao outro, o diretor Rob Meyer opta por manter o tom discreto da narrativa, sem exageros, histeria ou gritaria, ele faz uma comédia de costumes que funciona alfinetando a temática racista com a mesma naturalidade que elas aparecem nas ações mais comuns do cotidiano. Se por um lado Nelsan Ellis imprime um olhar blasé ao seu personagem, Melanie Linskey prefere assumir sua esposa/mãe imperfeita, que também tem lá os seus preconceitos (afinal, como ela poderia deixar o filho namorar com uma menina sem perspectiva de futuro?). Ainda que seja agradável de assistir, Little Boxes poderia aprofundar algumas situações que são abordadas superficialmente (como o incidente de Clark no quarto com a amiga, a relação de Gina com as colegas de trabalho ou a visita do primo distante), no entanto, pela forma como o filme termina, podemos imaginar que a família continuará presa àquelas situações por um bom tempo - graças às pequenas caixas mentais etiquetadas em que o ser humano costuma guardar suas referências pessoais sobre o mundo em que vive.
Little Boxes (EUA-2016) de Rob Meyer com Melanie Linskey, Nelsan Ellis, Armani Jackson, Oona Lawrence, Christine Taylor e Janeane Garofalo. ☻☻ ☻
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