terça-feira, 20 de junho de 2017

CICLO DIVERSIDADESXL: The Duke of Burgundy

Chiara e Sidse: nada é o que parece. 

Evelyn (Chiara D'Anna) pedala pelo campo até chegar numa casa imponente no meio das árvores. Ela é recebida por uma madame que não parece muito satisfeita com a sua chegada. Cynthia (Sidse Babett Knudsen) é a dona da casa e só permite que a visita sente no sofá mediante autorização. Não demora para que a senhora lhe passe as tarefas do dia e, com um tom sempre altivo, seja arrogante o suficiente para que Evelyn sinta-se humilhada a cada instante. Quando o serviço não é perfeito, Evelyn é castigada, sendo levada pela senhora a um cômodo e, com a porta fechada, ouvimos apenas ruídos. Nesta primeira parte o filme The Duke of Burgundy beira o sublime, fazendo com que o espectador sinta toda a tensão que existe entre as duas personagens e, diante do estranhamento, o espectador se surpreende ao descobrir que as duas mulheres são amantes - e que toda aquela relação abusiva trata-se de um pedido da própria Evelyn para sua amada. Lançado no início de 2015 no Reino Unido, o filme fez sucesso em alguns festivais pela forma como conduz um relacionamento temperado com fantasias, fetiches, submissão e poder. Não por acaso, o título faz alusão a Carlos "O Terrível" Duque de Borgonha que ficou famoso por sua crueldade. Existe neste ponto um aspecto interessantíssimo, já que por vezes Cynthia sente-se desconfortável com os pedidos da companheira, mas, mesmo assim, aceita submetê-la às humilhações e punições durante todo o filme. O diretor Peter Strickland conduz o filme cheio de movimentos calculados, além de olhares e gestos reveladores - que na maioria das vezes contam mais sobre aquele relacionamento do que os diálogos. A produção é impecável, figurinos e cenários irretocáveis, bela fotografia, edição de corte perfeito, no entanto, o espectador que não aprecia muito filmes carregados de simbologias e metáforas poderá achar a narrativa um pouco cansativa, já que por boa parte do filme o que se vê é o jogo de Cynthia ser levemente subvertido (seja numa palestra sobre mariposas ou com a presença de uma outra personagem feminina que desperta ciúmes) - ou será que tudo não faz parte do jogo entre as duas?Embora considere que o filme paga um preço alto por manter as personagens isoladas do resto da sociedade (além de contar seu maior segredo cedo demais), o diretor tem o mérito de construir uma história habitada somente por mulheres, borboletas e mariposas (e a introdução com a música da dupla Ca'ts Eyes ajuda muito a construir esta passagem atmosférica do nosso mundo para o que se vê na tela). Algumas pessoas podem até dizer que o filme tem mais forma do que conteúdo,  mas Strickland ao lado de suas duas atrizes cria um espetáculo visual capaz de hipnotizar quem está em busca de um filme diferente sobre um casal - e seus segredos mais íntimos. 

The Duke of Burgundy (Reino Unido/Hungria - 2015) de Peter Strickland com Chiara D'Anna, Sidse Babett Knudsen, Monica Swinn e Fatma Mohamed. ☻☻☻ 

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