Os investigadores e a testemunha: a ordem inversa das coisas.
Em exibição no Brasil através do Netflix, Shimmer Lake conta a história de um crime de trás para frente. A ideia parte de um assalto a banco envolvendo três cidadãos comuns de uma cidade pequena, mas o filme nos mostra primeiro as consequências do crime para somente depois se desenrolar, apresentando os segredos que envolvem os personagens até chegar ao final surpreendente. Desde que Christopher Nolan chamou atenção com Amnésia/2000 a narrativa invertida chegou a um novo patamar, o que pretende fazer a diferença aqui é que o roteirista Oren Uziel - de Anjos da Lei 2 (2014) - estreia na direção bastante inspirado pelo universo dos irmãos Ethan e Joel Coen. Estão presentes o humor negro, os assaltantes atrapalhados que se metem numa grande enrascada, uma mulher que não tem medo de cara feia e um personagem mais ardiloso do que todos os outros pensam que ele seja. Se no início o espectador pode ficar um pouco confuso para organizar o que está acontecendo, aos poucos fica bem claro que o xerife Zeke (Benjamin Walker) é o responsável por encontrar os assaltantes ao lado do parceiro (Adam Pally) e dois agentes do FBI (vividos por Ron Livingston e Rob Corrdy). Aos poucos sabemos que um dos ladrões é o irmão do próprio xerife (papel de Rainn Wilson), um promotor que enveredou pelo caminho da corrupção até perder-se completamente. Quem pode ajudar a encontrar os fugitivos é a esposa de um deles, Steph (Stephanie Sigman) que tem lá as sua cota de amarguras. O roteiro do próprio Uziel sabe utilizar ao seu favor a proximidade dos personagens que se conhecem desde sempre no pequeno universo daquela pacata cidadezinha. Todos os personagens conhecem a história dos outros, especialmente as fraquezas de cada um e tendo isso em vista o desfecho faz todo o sentido. Algumas pessoas reclamam do humor que aparece no filme de forma ofensiva em alguns momentos (especialmente com o jovem garoto de programa ou o juiz vivido pelo veterano John Michael Higgins, bem conhecido pelas comédias de Christopher Gertz), mas faz parte do clima pretendido pelo próprio diretor e seus personagens que se acham mais espertos do que realmente são. Conforme cresce o número de vítimas envolvidas com o assalto, o filme revela-se bastante irônico com relação aos meandros do plano elaborado e mantém seu maior segredo para o final (onde o sentido invertido das coisas ultrapassa a edição do filme). Shimmer Lake até parece um primo modesto de Fargo (2014) em sua sucessão de erros, a diferença é que no lugar de uma policial espirituosa criada pelos irmãos Coen, temos um xerife de poucas palavras e que não vê muito futuro na cidadezinha que se corrompe cada vez mais. Com roteiro esperto e ótimo trabalho de montagem, Shimmer Lake pode ser uma grata surpresa para o espectador que se aventurar pelo seu quebra-cabeça.
Shimmer Lake (EUA/Canadá - 2017) de Oren Uziel com Benjamin Walker, Rainn Wilson, Ron Livingston, Stephanie Sigman, Wyatt Russell, Adam Pally e Mark Rendall. ☻☻☻☻
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