sábado, 10 de junho de 2017

Na tela: Mulher Maravilha

Maravilha: um filme para chamar de seu. 

Pode se dizer que diante do sucesso do universo cinematográfico da Marvel a DC Comics está um pouco, digamos, atrapalhada. Afinal, não se trata mais de lançar um filme de herói para arrecadar bilheterias milionárias ao redor do mundo, o fato é que existe uma pressão para que a DC siga o caminho de sua concorrente e faça o mesmo nas telonas: integrar seus heróis numa verdadeira saga (tal e qual existe nas HQs). A Warner, detentora dos direitos da DC nos cinemas, não tinha a intenção de fazer nada parecido - e disse isso para imprensa várias vezes antes do fenômeno Vingadores/ 2012 mudar as regras do jogo. Ao topar a empreitada foi reconfigurada a continuação de Homem de Aço/2013 como o primeiro exemplar desse universo unificado. Lamentavelmente Batman v. Superman (2016) sofreu tantas intervenções que gerou uma histeria assustadora, que piorou muito mais com a versão retalhada de Esquadrão Suicida (2016) que chegou nos cinemas. Quanto à bilheteria não havia do que reclamar (e Esquadrão ganhou até um Oscar, lembram?), mas de olho num público mais amplo, o sinal de alerta soou nas gravações da próxima aventura a estrear: Mulher-Maravilha. O fato é que para a além do tabu de ser um raro filme de super-heroína, trata-se também de um dos pilares da DC Comics.  Para além disso, para um público que adora alienígenas e naves espaciais, mexer com deuses e mitologia ainda soa como heresia, nem vou falar que ela tem um dos uniformes mais complicados de levar para um filme e, o que é essencial para a personagen, Mulher-Maravilha é o heroísmo em estado puro! Ela não nasce de um planeta destruído ou presenciou a morte dos pais na infância. Descendente da rainha das amazonas, esculpida do barro e recebendo o sopro de vida do próprio Zeus, ela nasce para zelar pela vida sem cinismos ou grandes conflitos (algo um tanto fora de moda para os tempos estranhos que vivemos). Diana foi treinada para ser uma guerreira e sente necessidade de conhecer o mundo para além de Themyscira (mais conhecida como a Ilha Paraíso, criada por Zeus especialmente para as guerreiras amazonas e onde homens não são bem vindos) quando sabe que o mundo está em perigo com a chegada acidental do Capitão Steve Trevor (Chris Pine).

Trevor e Diana: clima de comédia romântica. 

Dirigido por Patty Jenkins (que desde que arrancou a oscarizada atuação de Charlize Theron em Monster/2003 sonhava em dirigir o filme Wonder Woman) o filme surpreendeu nas bilheterias e colheu elogios por reviver um filme de herói à moda antiga, sem inventar demais e com maior clima de matinê. Eu ainda percebo onde o filme foi mexido nos quatro atos feitos por Jenkins: o primeiro é o mais interessante ao mostrar a origem da personagem, o segundo torna-se um pouco cansativo ao mostrar o contato da personagem com o mundo dos mortais (e da-lhe piadinhas e tom de comédia romântica quando ela sai da ilha com Trevor). O terceiro a coloca no front e mostra porque ela se tornou um dos maiores nomes da DC Comics (a personagem foi criada na década de 1930 por William Moulton Marston - psicólogo polígamo cuja vida também merece um filme). Neste ponto devo dizer que a israelense Gal Gadot teve o grande desafio de fazer uma versão mais jovem e inexperiente da personagem que se tornou o ponto alto de Batman Vs. Superman. A bela atriz se esforça para dar conta dos dilemas da personagem, sua crença em matar o deus da Guerra e libertar os homens do horror das batalhas e sua decepção ao perceber que os homens apreciam a destruição mais do que ela imaginava. No entanto, surge o último ato um tanto forçado, mas que ainda é necessário para colocar a heroína no panteão dos seres mais poderosos do cinema junto ao grande público. Mulher Maravilha agrada, não está entre os meus filmes de heróis favoritos, mas mostra que a DC Comics descomplicou na hora de fazer um filme de herói dentro dos novos padrões "unificados". O resultado é mais agradável, menos sombrio, mas perde um pouco de ousadia - ainda que ele invista no discurso do empoderamento feminino de forma charmosa e irresistível.

Girl Power: a elite de Themyscira.

Mulher Maravilha (Wonder Woman/EUA-2017) de Patty Jenkins com Gal Gadot, Chris Pine, Connie Nielsen, Robin Wright, Danny Huston, David Thewlis e Lucy Davis. ☻☻☻☻

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