segunda-feira, 19 de junho de 2017

CICLO DIVERSIDADESXL: C.R.A.Z.Y

Zac: nascido para causar. 

O canadense Jean Marc Valée faz cinema desde 1995, mas ficou conhecido do grande público quando convenceu o mundo de que Matthew McCounaghey merecia o Oscar de melhor ator por sua atuação em Clube de Compras Dallas (2013). Quem tem o radar ligado para filmes interessantes além de Hollywood conheceu Valée em 2005 quando ele conseguiu o seu primeiro sucesso: C.R.A.Z.Y. (assim mesmo, como se fosse uma abreviação). O filme se tornou cult e bastante querido em vários festivais, chamando atenção para um diretor que contava uma história comum com bastante estilo e energia. Existem trocentos filmes sobre adolescentes que descobrem a homossexualidade, mas poucos conseguem ter um ritmo pop irresistível como este aqui. Com trilha sonora cheia de hits e personagens que parecem saídos de uma sitcom, o filme acompanha o menino Zachary desde o seu nascimento no dia de Natal em 1960. Desde aquele momento sabia-se que ele seria um filho diferente para o casal Gervais (Michel Côté) e Laurianne (Danielle Proulx), não apenas por conta de uma mecha de cabelo branco que possui perto da nuca ou dos "poderes" que uma amiga psicoterapeuta garante que Zac possua, o fato é que o próprio menino sabe que não possui nada em comum com seus três irmãos  (um cretino, um nerd e um atleta) - e mais tarde ainda ele ainda perderá o posto de caçula para o quarto filho do casal. Embora de vez em quando ele vestisse as roupas da mãe quando pequeno, seu interesse por outros meninos na adolescência é sempre vista como algo que pode ser superado na adolescência (mesmo quando o namorado da prima aparece para uma festa). Das implicâncias dos irmãos, à rejeição às investidas da amiga ruiva Michelle (Natasha Thompson que evoca algumas fases de David Bowie, ídolo de Zac) o tempo passa e o pai começa a se preocupar com a sexualidade do filho e desta preocupação o filme tem alguns dos seus melhores momentos, afinal, se antes os dois eram próximos, aos poucos o pai se torna cada vez mais crítico com Zac. Vivido por Marc-André Grondin (já comentei outro filme com ele aqui no blog, O Homem que Ri/2012) o personagem descobre sua sexualidade aos poucos, sempre sob a desconfiança do pai que possui algumas atitudes bastante engraçadas (como o orgulho do filho ter se envolvido numa briga na escola e provar assim que é homem de verdade, situações assim são valorizadas ainda mais pela atuação de  Michel Côte). Zac torna-se fã de rock, mostra-se cada vez mais crítico com a postura dos irmãos, com  a religião e sempre mostra-se em dúvida sobre sua sexualidade. Mistura de comédia com drama familiar, Valée faz um filme vibrante, colorido e que se torna universal por explorar sem sensacionalismos a reação de um garoto e sua família perante a descoberta da homossexualidade (a cena de pai e filho no estacionamento é um primor ao sintetizar como a revelação pesa para ambos os lados). Valée só erra a mão quando investe mais do que devia na fantasia e nos delírios das aventuras do personagem pelas bandas de Jerusalém, mas trata-se de um deslize pequeno para um filme que pode ser uma grande surpresa para quem não conhecia os primórdios da carreira deste elogiado diretor canadense.  

C.R.A.Z.Y (Canadá-2005) de Jean Marc Valée com Marc André Grondin, Michel Côte, Michelle Proulx, Pierre-Luc Brillant, Alex Gravel e Natasha Thompson. ☻☻☻☻

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