sábado, 28 de julho de 2018

Na Tela: O Amante Duplo

Chloé e Renier: relacionamento complicado. 

Em tempos em que a insossa trilogia Cinquenta Tons é considerada digno de culto por muita gente, torna-se um prazer ainda maior assistir a um filme como O Amante Duplo. Exibido na competição do Festival de Cannes em 2016, o filme mexeu com a libido da plateia que se envolveu no suspense psicológico de François Ozon. Ozon já dirigiu de tudo (comédias, dramas, fantasias, romances de época, musicais...), mas sempre fica mais a vontade quando lida com o lado sombrio das relações humanas. O filme conta a história de Chloé (Marine Vacth), que embora seja a protagonista nunca sabemos muito sobre ela - mas o diretor ironiza isso, explorando o que há por dentro da personagem (e embora sua câmera registre isso fisicamente, o que se passa no interior da protagonista permanece sendo um enigma - até para ela mesma). Angustiada por constantes dores no ventre, ela é aconselhada a procurar ajuda psicológica, uma vez que os médicos não identificaram nada que as justificasse. Acreditando ter origem emocional (repressão sexual? frigidez?), ela procura um psicólogo, Paul (Jérémie Renier), com quem fará acompanhamento por várias semanas. No entanto, ambos não conseguem esconder a atração que um sente pelo outro. Embora tenham algumas diferenças (sobretudo as que envolvem um gato dentro de casa), os dois passam a morar juntos num relacionamento amoroso e sexual bastante intenso. As coisas mudam quando Chloé arecomeça o acompanhamento psicológico com outro profissional, Louis (o mesmo Renier), que ela descobre ser o irmão gêmeo que Paul prefere manter em segredo. Mas será isso mesmo? Seduzida pela personalidade agressiva de Louis - que é totalmente o oposto do cordial Paul -, Chloé e Louis se envolvem cada vez mais, levando a acontecimentos que colocam a sanidade da personagem em dúvida. Existe bastante ousadia em O Amante Duplo (e não estou falando das cenas de sexo), esta ousadia aparece nas cenas delirantes vigorosas, na trilha sonora pesadelesca, além de brincar com fantasias, mitos e curiosidades sobre os irmãos gêmeos. Embora comece como uma fantasia erótica, aos poucos o filme explora o que pode haver de mais complexo em dividir o ventre com alguém, além de sempre lidar com sua forma duplicada. Quanto ao elenco, Marine Vacth está a vontade no papel de uma mulher complicada e convence até quando o filme revela seus segredos (e se torna ainda mais complicado), no entanto, Jérémie Renier está melhor ainda, desenvolvendo dois irmãos de forma tão meticulosa que você até fica em dúvida se são vividos pelo mesmo ator (e quando um finge ser o outro, você é capaz de identificar o farsante). Baseado no livro A Vida dos Gêmeos de Joyce Carol Oates, O Amante Duplo é um filme denso, complexo e sombrio, mas não ao ponto de esconder como Ozon se diverte com este tipo de material (e torna-lo ainda mais interessante).

O Amante Duplo (L'Amant Double/ França - 2017) de François Ozon com Marine Vacth, Jérémie Renier, Jacqueline Bisset, Myriam Boyer e Fanny Sage. ☻☻☻☻

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