sábado, 28 de julho de 2018

Na Tela: Tully

Davis e Charlize: desvendando a mulher por trás da maternidade. 

Desde sua estreia em Obrigado por Fumar (2005) o diretor Jason Reitman deixou claro que queria falar de temas sérios com ironias e profundidade. De vez em quando falta lhe um roteiro para demonstrar o melhor de seu talento. Um dos pontos altos da carreira do cineasta aconteceu com Juno (2007), seu segundo longa metragem que concorreu a quatro Oscars (incluindo de melhor diretor) - mas levou para a casa somente o de roteio original. O roteiro era assinado por uma novata com roupas nada discretas, tatuagens e rodeada por boatos de que trabalhava como stripper em lugares pouco lisonjeiros. Foi assim que começou a relação entre Jason Reitman e Brooke Busey, ou melhor, Diablo Cody, uma relação onde um sabe exatamente como ressaltar o talento do outro. Embora criem dependência entre suas carreiras, os dois de vez em quando se encontram em um filme que revela o quanto são complementares. Foi assim quando se reencontraram em Jovens Adultos (2011) e agora neste Tully. Nestes dois filmes, existe um acréscimo considerável: a presença de Charlize Theron como protagonista. Pelo que vemos na tela, a atriz vê um porto seguro no trabalho de Cody/Reitman para exercitar seu talento em personagens femininas que exploram camadas nem sempre exploradas no cinema. Foi assim quando a loura oscarizada fez a escritora megera que tentava recuperar o namorado de adolescência (numa luta inútil para não amadurecer) e agora ela encarna uma mãe que entra em crise ao ter o terceiro filho. Aqui Charlize interpreta Marlo, mãe de Emmy (Maddie Dixon-Poirier), do problemático Jonah (Asher Milles Falica) e que fica ainda mais cansada em sua rotina de mãe e dona de casa quando dá a luz à  pequena Mia. Marlo está tão exausta em ter que dar conta de tudo sozinha - sim, ela tem um esposo (Ron Livingston) que trabalha o dia todo e quando chega em casa quer descansar e jogar games - que parece sempre cansada. Some a rotina de cuidar de um bebê, da casa e de aguentar reclamações da escola de Jonah e você terá uma ideia de como esta mulher está no limite. É neste ponto que o irmão de Marlo indica para ela uma babá noturna, alguém que seja capaz de cuidar do bebê enquanto a mãe tem uma boa noite de sono. No início ela rejeita a ideia, mas depois aceita, ou pelo menos, parece. Quando a jovem Tully  (Mackenzie Davis) aparece, a protagonista começa a se sentir mais aliviada. Não apenas pela ajuda com o bebê, mas também com a arrumação da casa, das conversas durante a noite e a sensação de que, aos poucos, ela não precisa cobrar tanto de si - além de perceber que cuidar da casa e da família não é tarefa somente dela. Tully e Marlo começam a desenvolver uma cumplicidade quase simbiótica - e que rende um dos momentos mais ousados do filme (mas que perto do desfecho se explica sem maiores esforços). O filme em si tem vários méritos, um deles é lidar com a maternidade de uma forma bastante honesta, sem rancores ou julgamentos, dando-lhe uma leveza que faz o filme caminhar quase que por conta própria. Outro ponto interessante são as camadas de Marlo - o que a faz parecer qualquer mãe que você tenha conhecido. São estes pontos, que já renderiam um bom filme, que sustentam "a surpresa" que o roteiro esconde - mas que algumas pessoas podem descobrir lá pelo meio do caminho. Em termos de cinema, o filme tem outro mérito, alinhar mais uma vez os talentos de Reitman, Cody e Charlize numa sintonia fina sobre personagens comuns que podem ser muito interessantes. 

Tully (EUA-2018) de Jason Reitman com Charlize Theron, Mackenzie Davis, Ron Livingston e Mark Duplass. ☻☻☻☻

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