Jamie e Dakota: o menos robótico e a mais desinibida.
Devo ter citado uma dezena de vezes aqui no blog o conselho que meu amigo Osmar sempre dizia quando trabalhamos juntos: "fuja de um best-seller feito o diabo foge da cruz". Talvez alguma vez tenhamos refletido sobre os filmes que são frutos destes livros que colecionam milhões de fãs ao redor do mundo, afinal, como centenas de adaptações já comprovaram, este tipo de produção costuma não ter muito compromisso com a arte cinematográfica (ou com o livro em si), mas com o fã e, nada mais complicado, do que criar uma obra diante da necessidade de conciliar a visão que milhões de pessoas tiveram sobre um determinado livro. É verdade que um diretor de pulso firme é capaz de fazer um bom trabalho de um livro de sucesso (assim como de qualquer outra coisa, como uma receita de bolo, por exemplo), mas geralmente é o estúdio que compra os direitos autorais e prefere contratar um operário que não dê muito trabalho para fazer o que se pede - e como já torrou alguns milhões com direitos autorais, contratar atores modestos também ajuda (até mesmo pelo motivo de atores consagrados terem medo de se queimar com um material controverso, afinal, como já foi dito, lidar com fã de best-seller é um verdadeiro vespeiro). Não por acaso, sempre que vejo qualquer citação à 50 Tons de Cinza eu lembro de uma amiga, a Mercedes, que entre todos os suspiros, arrepios e outras coisitas que a trilogia de E.L. James provocava, Mercedes sempre dizia cair na gargalhada com os livros e que, no fundo, tudo era uma grande comédia. Já no primeiro filme dedicado ao romance da mocinha Anastasia Steele (Dakota Johnson) com o milionário Christian Grey (Jamie Dornan) eu me perguntava o que a mulherada achava de tão excitante naquele amontoado de clichês de uma típica história de Cinderela que encontra um príncipe mais hardcore - já que o moço é chegado em uma pegada sadomasoquista. Se no primeiro filme tudo era brega e superficial, no segundo tudo ficou ainda mais sem graça. Talvez a opção de trocar a diretora Sam Taylor-Johnson por James Foley tenha prejudicado filme, já que a diretora pelo menos conseguia manter um olhar curioso sobre o mundo em que sua heroína se metia. Foley (um cara que já fez de tudo, clipes, filmes, séries... com sucesso ou não) disfarça sua direção mais do que convencional com uma pitada e outra de brinquedinhos sexuais, cenas de sexo com trilha cafona (tipo cena de novela, entende?) e um punhado de situações sempre subaproveitadas. Entre uma transa e outra, Anastasia (nome de princesa russa e sobrenome de autora de best-sellers românticos) e Christian Grey (que traduzindo seria um "cristão cinzento") conhecem o Médico e o Monstro, ou melhor, Jack Hyde (Jekyll e Hyde, sacaram?), precisam lidar com traumas de Grey, uma ex-namorada desequilibrada, a ascenção na carreira de Ana, a presença da Mrs. Robinson (Kim Basinger) - que ensinou ao Grey o valor de um chicotinho - e até um acidente aéreo... mas não se preocupe, tudo é resolvido rapidinho para ninguém ficar angustiado. Em quase duas horas de filme o esforço para ser completamente inútil é notável! No entanto, vale destacar que Dornan está menos robótico na pele do anti-herói romântico da história e Dakota está mais desinibida do que antes, faltou só um um roteiro que prestasse. Não existe tensão, romantismo ou tesão que resista a um texto tão fuleiro. Se Hollywood não consegue fazer nem um filme sobre sexo ser interessante, a coisa está realmente complicada por aquelas bandas. Eu até pensei que poderiam tentar melhorar a trilogia no último episódio e colocarem Catherine Breillat (dos polêmicos Romance/1999 e Anatomia do Inferno/2004) para colocar uma pimentinha no romance dos dois, mas no fundo, os tons de cinza são apenas de brincadeirinha e seguem desbotados para mais uma parte dirigida por James Foley. Dá para pelo menos colocar uma música que não seja R&B meloso no próximo filme? E evitar aquelas sincronias risíveis que aparecem neste aqui? Desde já, agradeço.
Cinquenta Tons Mais Escuros (Fifty Shades Darker/EUA-China/2017) de James Foley com Dakota Johnson, Jamie Dornan, Marcia Gay Harden, Kim Basinger, Rita Ora e Eric Johnson. ☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário