Gustav: traído pela imaginação.
Selecionado pela Dinamarca para representar o país entre os candidatos ao Oscar de filme estrangeiro (e acabou ficando de fora), Culpa é um mergulho em nossa própria imaginação. A trama gira em torno do policial Asger (Jakob Cedergen), responsável pelo atendimento de chamadas de emergência em uma delegacia. Na hora final de seu turno, ele recebe a ligação de uma mulher que tudo indica ter sido sequestrada e a partir desta chamada várias surpresas acontecem. O filme impressiona pelo uso dos poucos recursos que o protagonista tem em mãos em seus quase noventa minutos de duração. O filme cresce em tensão ao estabelecer um jogo bastante interessante com a plateia. Confinado no centro de atendimento, diante de um computador e telefones, Asger fará de tudo para ajudar aquela mulher e, em alguns momentos, se verá traído pelas próprias percepções diante do que escuta. Surge daí outro elemento rico do filme: a identificação imediata com o ponto de vista do protagonista. A cada detalhe dos diálogos com a mulher, com o sequestrador ou outros personagens, todo um cenário se constrói em nosso imaginário. Neste aspecto, a economia na tela se converte em uma espécie de suspense bastante instigante durante todo o filme. Os silêncios, os cortes abruptos nas conversas, os sons, tudo ganha significados que alguns minutos depois podem se revelar bastante diferentes de nossa primeira impressão - assim como o próprio "herói" da história, que tem os seus fantasmas para exorcizar. Trata-se de um experiência cinematográfica interessantíssima, amparada por um roteiro bem escrito, um diretor que sabe exatamente o que está fazendo e um ator capaz de criar várias nuances para o personagem principal. O cineasta Gustav Möller realiza aqui sua estreia em longa-metragem com um excelente cartão de apresentação acerca de seu talento para contar histórias. Com cortes precisos, uso de luz estratégicas e ângulos que movimentam o filme de forma bastante eficiente, enquanto isso, a sintonia de suas intenções com o ator Jakob Cedergen é impressionante - especialmente pela forma como vira seu personagem do avesso (o transformando em herói e anti-herói de forma que até parece fácil). Pelo talento apresentado em cena, Jakob ganhou alguns prêmios, o que só piora a situação do ator que irá substituí-lo na alardeada refilmagem americana que já está em pré-produção.
Culpa (Den Skyldige/Dinamarca-2018) de Gustav Möller com Jakob Cedergen, Jessica Dinnage, Omar Shargawi e Johan Olsen. ☻☻☻☻
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