Amy e Christian: nos bastidores do poder.
Último dos oito indicados ao Oscar de Melhor Filme a estrear por aqui é também um dos mais indicados da noite. Lembrado em oito categorias, dificilmente o filme de Adam McKay sairá de mãos abanando. MacKay (indicado ao Oscar de direção, produção e roteiro original pelo filme) já tinha surpreendido ao fazer da crise financeira de 2006 virar uma comédia ágil e ácida em A Grande Aposta (2015), o filme lhe rendeu o Oscar de roteiro adaptado e este Vice segue no mesmo estilo, contando com mais uma colaboração do ator Christian Bale (que foi até indicado ao Oscar de coadjuvante por aquela parceria). Agora Bale tem a tarefa de encarnar o vice-presidente de George W. Bush (vivido no filme por Sam Rockwell, que num exagero foi indicado ao Oscar de coadjuvante deste ano). Dick Cheney que não era uma figura muito conhecida da maioria das pessoas, mas que era um grande articulador político nos bastidores da política. A caracterização do ator impressiona (a maquiagem também concorre à estatueta), mas é Bale que dá aquele tempero de fazer o personagem se impor mesmo quando surge como apenas mais um em cena. O destaque nesta postura é fundamental para um personagem que era acostumado a viver fora dos holofotes, quase invisível perante a mídia, mas que era capaz de tomar decisões que o tornaram uma das personalidades mais controversas do século XXI. Justamente por ser uma figura pouco conhecida o filme de McKay se torna mais interessante. Eu não fazia a mínima ideia de que antes de embarcar na política ele tinha uma vida acadêmica e profissional complicada - e neste ponto, o filme apresenta como a esposa, Lynne Cheney (Amy Adams, indicada a todos os prêmios de atriz coadjuvante da temporada, incluindo o Oscar) foi fundamental na guinada que sua vida atravessou. De perfil republicano e conservador, o casal foi feito um para o outro e o diretor não tem medo de ironizar esta sintonia colocando os dois numa cena em que dialogam como a versão moderna do casal Macbeth de Shakespeare. Fiquei surpreso em descobrir que Cheney chegou a trabalhar na Casa Branca com Richard Nixon e que foi Donald Rumsfeld (interpretado aqui por Steve Carrell) que o introduziu nos círculos do poder. Desde aquele tempo, Cheney sempre aparecia na política quando o partido republicano dava as caras na presidência. Não por acaso, foi o escolhido para ser o vice de George W. Bush. É neste período que o filme tem seu momento mais complicado, especialmente pós-11 de setembro, acarretando uma sucessão de tensos acontecimentos na política americana e mundial. Os cortes são espertos e por vezes caóticos, misturando a vida pessoal e pública do personagem em uma linha temporal que vai e volta a todo instante. Confesso que em algumas vezes eu fiquei perdido nas idas e vindas da edição (indicada ao Oscar), mas o narrador vivido por Jesse Plemons (um personagem que poderia render até um filme paralelo no futuro... McKay, fica a dica) sempre ajuda a recuperar o fio da meada. Apesar do humor maldoso, Vice fala de coisas bastante sérias e suas ousadias lhe dão chances reais de sair com a estatueta de melhor filme no dia 24 de fevereiro. Acho que a esta altura nem precisa dizer que Christian Bale é um dos favoritos para levar o Oscar de Melhor Ator, mas ele está praticamente empatado com Rami Malek (responsável por outra caracterização matadora em Bohemian Rhapsody), resta saber em quem a Academia votará, no Freddie Mercury ou no seu total oposto, um político republicano que no desfecho tenta cavar na plateia os sentimentos que colocam pessoas como ele no poder. Vice pode até ter tom de brincadeira, mas é um brincadeira de gente grande.
Vice (EUA-2018) de Adam McKay com Christian Bale, Amy Adams, Sam Rockwell, Jesse Plemons, Steve Carrell, Alison Pill, Eddie Marsan e Tyler Perry. ☻☻☻☻
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