Rene e Jake: um filme fora de controle.
Enquanto eu assistia Velvet Buzzsaw, novo lançamento original da Netflix, eu imaginava o que se passava na cabeça de Dan Gilroy. Dan ficou conhecido por conta do irmão, Tony Gilroy, diretor de dois episódios da Jason Bourne. Roteirista desde os anos 1990, Dan estreou na direção somente em 2014 com o suspense sobre o submundo dos telejornais sensacionalistas chamado O Abutre (2014), estrelado por Jake Gyllenhaal (que foi indicado ao Globo de Ouro pelo trabalho, mas acabou ficando de fora do Oscar). Lembro que enquanto muita gente exaltava as virtudes daquele filme, um crítico (que não lembro quem foi) destacava a ausência de camadas do protagonista o que deixava o filme com uma única nota durante toda a projeção. Depois, Dan foi o escritor do esquecível Kong: A Ilha da Caveira (2017), onde ele fazia exatamente o que o tal crítico dizia. Depois o cineasta rendeu mais uma indicação ao Oscar por um excelente momento de Denzel Washington em Roman J. Israel (2017), cujo o roteiro tinha lá os seus tropeços, mas que prendia o interesse por arranhar as contradições no caminho de um advogado idealista. Com este Velvet Buzzsaw, Dan joga no lixo qualquer credibilidade - e não digo isso porque o filme se revela cada vez mais trash em sua execução. O filme poderia ser uma grande alfinetada no mundo da arte, mas sem a elegância provocativa do sueco The Square (2018), o filme se torna cada vez mais gratuito. Sem sutilezas, Dan elaborou uma história ambientada nos bastidores das galerias de arte. Concentrado nas trocas de influências, críticas ácidas (que rendem sucesso de vendas ou o fracasso mais absoluto) e conversas em que o conceito de arte é o menos explorado. É neste mundo que habita o crítico Morf Wanderwalt (Jake Gyllenhaal) que é arrogante e vaidoso (menos original), que é bastante próximo de Rhodora Haze (Rene Russo, esposa de Gilroy), dona de uma galeria de arte que domina bem as regras do ramo. Infelizmente a dupla de O Abutre tenta defender personagens bem menos interessantes desta vez, o que prejudica bastante o filme. Entre os dois ainda estão Gretchen (Toni Collette, desperdiçada), prestes a se tornar consultora de arte e Josephina (a fraca Zawe Ashton) que irá descobrir o legado de um artista maldito. Nos primeiros trinta minutos o filme é cômico em sua artificialidade afetada, mas depois que entra na história os quadros de um pintor misterioso tudo perde as estribeiras e muda de tom. O filme passa a ser habitado por fantasmas, maldições e as obras de arte se rebelam contra aqueles que se importam cada vez menos com o que tentam expressar. Talvez seja uma crítica de Dan ao mundo das artes em geral (incluindo o cinema), mas faltou a ele um pouco de bom senso e criatividade na construção de sua história (confundir arte com saco de lixo e mutilação com instalação é bastante grotesco). Confuso e desinteressante, a cena final é uma das mais patéticas que eu já vi (e eu já vi muita coisa...). Difícil imaginar o passo seguinte do cineasta depois deste vexame. Talvez se tivesse um bom parceiro por perto (o irmão Tony, por exemplo) os excessos seriam contidos e Velvet Buzzsaw poderia ser ao menos envolvente.
Velvet Buzzsaw (EUA/2019) de Dan Gillroy com Jake Gillenhaal, Rene Russo, Zawe Ashton, Toni Collette, Tom Sturridge, John Malkovich, Billy Magnussen e Natalia Dyer. ☻
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